Cristina Augusta Wasa nasceu em Estocolmo em 1626, filha do rei Gustavo Adolfo e da rainha Maria Eleonora de Brandemburgo. Tornou-se herdeira do trono ainda criança, depois que o pai morreu na Batalha de Lützen (1632), um confronto da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) que envolveu diversas nações europeias por questões religiosas, disputas dinásticas e territoriais. Superada a fase de regência, assumiu efetivamente o governo do Império Sueco, sendo coroada aos 18 anos de idade. Até essa altura já havia passado por um rigoroso processo de preparação, tendo uma insaciável sede por conhecimento, buscando aprender de tudo e explorar todos os campos de conhecimento, o que a levou ao reconhecimento como uma das mulheres mais eruditas de seu tempo. Um de seus professores foi o filósofo René Descartes, que morreu enquanto estava em sua corte.
A Suécia passava por dificuldades financeiras desde o início de seu reinado, mas a rainha parecia não se importar com o problema, pois se desfez de muitas posses rentáveis da coroa para distribuir entre os nobres que se multiplicaram em seu governo pela concessão de títulos. Seus gostos luxuosos também representavam um enorme custo para os cofres públicos, e a repercussão disso era uma crescente rejeição à rainha por parte da população.
Além disso, o país era afetado pelos conflitos externos diretos com a Polônia e a Dinamarca, situações que ela buscou solucionar. Apesar disso, realizou uma aliança considerada incomum com a Espanha, que era um bastião do catolicismo e rival de aliados da Suécia, que havia aderido à Reforma Protestante e abraçado o Luteranismo. Seu empenho pela paz na Europa fez com que a Suécia tivesse grande participação na articulação do acordo conhecido como Paz de Vestfália, que oficializou o fim da Guerra dos Trinta Anos.
Completando uma década de reinado, em 1649, Cristina decidiu anunciar sua renúncia ao trono em favor de seu primo Carlos Gustavo, que ela havia anteriormente designado como herdeiro. Além da impopularidade e rejeição dos súditos ter sido um problema crescente, ela alegou que estava desgastada pelo fardo do governo. Contudo, outras questões influenciaram sua decisão, pois ela havia renunciado ao protestantismo, se convertido ao catolicismo e vinha sendo constantemente pressionada para casar contra sua vontade.
Seu comportamento sexual também pode ter sido um elemento importante de seu desapego pelo status de rainha. Muitas especulações giraram em torno de sua sexualidade. Após seu nascimento, houve uma estranha demora no anúncio sobre se era menino ou menina, e o seu pai a tratava oficialmente como “príncipe”, situação que despertava falas maledicentes. Cristina se vestia frequentemente com roupas masculinas e tinha uma relação conhecida com outra mulher, a cortesã Ebba Sparre, o que era sempre tratado como uma conduta escandalosa por parte de uma rainha, apesar das tentativas de abafar a situação.
Depois da abdicação, Cristina foi para Roma e lá se dedicou a patrocinar a arte, atividade que já exercia intensamente quando reinava, elevando Estocolmo a um importante centro artístico e cultural. Na Itália, ela fundou e participou de sociedades filosóficas e de circuitos intelectuais e científicos, além de patrocinar companhias teatrais.
Mas ela não ficou distante das intrigas e se envolveu em uma conspiração visando o trono do reino de Nápoles. Enquanto era hóspede do poderoso e influente Mazzarino, ministro-chefe de Luís XIV, ela chegou a ordenar a execução sumária de um ex-aliado que revelou sua intenção aos napolitanos. Ela invocou para realizar este ato uma autoridade real da qual ela sequer dispunha – ainda mais vivendo em outro país – mas acabou não sofrendo nenhuma punição pelo crime. Com isso, a França rompeu os laços com ela para se desvincular de envolvimento na conspiração, e Cristina foi praticamente expulsa de Roma por seu amigo, o Papa Alexandre VII.
Ela continuou suas andanças pela Europa, tentou em vão retomar o trono da Suécia por ocasião da morte do rei Carlos Gustavo em 1660. Não obtendo sucesso nesta tentativa de voltar a ser uma monarca, ela voltou-se para mais
uma conspiração, desta vez pelo trono polonês. Em 1666, nessa altura chefiando a Casa de Vasa, dinastia da qual fazia parte, articulou-se para tomar a coroa da Polônia, que era tradicionalmente ocupada por algum monarca de sua família. Mas essa operação resultou em mais um fracasso, apesar do apoio do Papa Clemente IX, que acabou a aceitando de volta em Roma depois desse episódio.
Em sua nova permanência romana, ela já havia consumido significativa parte de seu patrimônio, embora não tenha deixado de continuar rica por receber rendas de propriedades na Suécia e ainda ser uma pessoa influente. Ela ainda empregava seus recursos em artes e no benefício de artistas. Sua saúde foi se deteriorando com o tempo e ela morreu em 19 de abril de 1689, aos 62 anos de idade, e teve funerais dignos de uma rainha, sendo sepultada ao lado de papas na Basílica de São Pedro, em Roma.

