Dias de Resistência: A saga de Henrique Dias contra os holandeses

(Representação visual gerada por IA)

No contexto dos conflitos entre luso-brasileiros e holandeses, uma das lideranças de destaque foi mestre-de-campo Henrique Dias. Ele nasceu no início do século 17 em data indefinida e pouco se sabe sobre seus primeiros anos, embora seja conhecido que foi um escravo liberto. Diz-se que Henrique Dias foi o primeiro homem negro letrado brasileiro, por ter sido autor de registros escritos.

Durante os ataques dos holandeses, Dias se ofereceu como voluntário às forças lideradas por Matias de Albuquerque em 1631, inicialmente em um posto militar onde atuavam outros negros. Foi ferido em combate e perdeu a mão esquerda, mas essa mutilação não o deteve, e ele permaneceu ativo como soldado. Quando o foco de resistência estabelecido no Arraial do Bom Jesus caiu, em 1635, foi aprisionado pelos holandeses. Estes não o consideraram um preso de guerra, acreditando que o combatente negro fosse escravo, equívoco que favoreceu sua fuga. Dias se uniu a uma tropa em retirada, rumando para a Bahia.

Enquanto Maurício de Nassau se estabelecia como governante das possessões holandesas no nordeste brasileiro, Henrique Dias chegou a enfrentar outros negros, atuando como capitão-do-mato e participando de expedições com o propósito de dissolver quilombos. Contudo, quando o nobre alemão a serviço da Companhia das Índias Ocidentais foi destituído do cargo em 1644, Dias retornou ao combate regular como militar, momento em que a resistência adentrou a fase da insurreição.

Comandando o batalhão “Terço dos Homens Pretos”, composto por cerca de 500 combatentes, Dias liderou diversas ações bem-sucedidas, consolidando uma excelente reputação como líder. Ele recusou o cumprimento da ordem de trégua vinda de Portugal, insistindo na resistência. Esteve ao lado de seus comandados nos cenários mais relevantes da guerra, desempenhando um papel crucial para o desfecho vitorioso da insurreição, que culminou com a rendição dos holandeses em 1654.

Em reconhecimento aos valiosos serviços prestados pelo batalhão de homens negros, o comandante português Francisco Barreto de Menezes conduziu Dias em 1656 a uma audiência com o rei D. João IV. O objetivo era cobrar recompensas pendentes, e o monarca concedeu a continuação do regimento e pagamentos de modestas pensões aos ex-combatentes.

A contribuição dos negros em prol dos senhores de engenho não atenuou a exploração que os senhores de terras exerciam sobre a escravatura, e muitos dos que lutaram não receberam o reconhecimento devido.

Henrique Dias carregou marcas de sua atuação como guerreiro; além da amputação de uma mão, acumulou cicatrizes de diversos ferimentos. No entanto, após a guerra, não recebeu privilégios ou honrarias significativas, além de um título honorífico de Cavaleiro da Ordem de Cristo. Morreu na pobreza em 1662.

Henrique Dias é reverenciado como um dos fundadores do Exército Brasileiro e tem seu nome inscrito no Livro de Heróis da Pátria desde 2012.

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