Locusta: A envenenadora que moldou o destino de Roma

(Representação visual gerada pela IA Mage + Leonardo)

Recorrer ao envenenamento costumava ser uma forma sofisticada e discreta de matar. Gente poderosa morreu envenenada e matou usando substâncias fatais, mas as pessoas responsáveis pela preparação das poções mortíferas foram tão discretas quanto suas criações letais. Uma pessoa especializada no conhecimento dos ingredientes e nas técnicas de preparo de substâncias venenosas poderia encontrar bastante trabalho entre clientes repletos de inimigos, desafetos ou ambições sem limites. Ou seja, encontraria um excelente campo de atuação para ganhar dinheiro e exercer seus dotes no Império Romano.

Locusta da Gália foi uma dessas especialistas que se destacou – até certo ponto – entre os romanos. A gaulesa, que pode ter chegado a Roma como escrava, já demonstrava talento na preparação de venenos, o que lhe causou problemas e resultou em prisões. Contudo, como trabalhava para pessoas influentes, ela conseguia se safar. Numa dessas ocasiões, quem a procurou (e a libertou de mais uma prisão) foi Agripina, uma pessoa muito poderosa com uma extensa lista de inimigos e alvos a eliminar. Locusta passou a aconselhar Agripina sobre ingredientes, preparos e efeitos das receitas venenosas, o que estabeleceu uma parceria “interessante”. Afinal, a nobre romana estava no centro do poder, sendo neta do imperador Tibério, irmã do imperador Calígula, esposa e sobrinha do imperador Cláudio e mãe do imperador Nero. Além de já ter experiência em eliminar desafetos, Agripina pretendia matar Cláudio para favorecer seu filho Nero, enteado do imperador. Matar maridos não era algo inédito para ela, que já havia assassinado os dois primeiros. Porém, sendo a vítima um imperador, era necessário uma abordagem diferente. Locusta planejou todo o processo de intoxicação de Cláudio, que faleceu em outubro de 54 após um mal-estar supostamente digestivo.

Nero começou a recorrer aos serviços da envenenadora que o ajudou a assumir o trono. Locusta foi novamente presa, e o imperador ordenou sua soltura para que ela formulasse venenos que garantiriam sua segurança no poder. Ele solicitou o envenenamento de Britânico, jovem filho de Cláudio e potencial problema por ter maior reivindicação legítima ao trono de Roma. Locusta preparou um veneno potente com beladona, arsênico, heléboro e mandrágora, mas Britânico sobreviveu. Nero castigou Locusta pessoalmente, e ela aprimorou a fórmula, que, por fim, matou o pretendente ao trono em espasmos durante um banquete. Posteriormente, Locusta foi recompensada com pagamentos regulares, servos e o status de mestra, treinando outros envenenadores. Nero guardava um veneno de ação imediata preparado por Locusta para usar em situações extremas, mas acabou sendo morto por um golpe de punhal desferido por um serviçal, cumprindo sua própria ordem, antes de ser capturado pelos seus inimigos no final de 68.

Após a morte de seu financiador e protetor, Locusta foi capturada, arrastada pelas ruas e executada publicamente juntamente com outros aliados próximos de Nero.

Após sua morte, soube-se que Locusta testava suas receitas em cobaias humanas, incluindo escravos, condenados e, segundo rumores, até crianças. Há debates sobre se ela era uma assassina em série ou a verdadeira responsável pelas mortes causadas por seus venenos, já que, mesmo que ela produzisse as substâncias, eram pessoas proeminentes que as empregavam e determinavam as doses mortais. Locusta trabalhava frequentemente sob coerção de seus contratantes, colocando-a numa posição em que ou preparava os venenos ou enfrentava a morte. Portanto, ela era mais uma ferramenta dos crimes do que a verdadeira executora.

5 comentários

Deixe um comentário