Pedro Poti: indígena convertido ao protestantismo e aliado dos holandeses na disputa colonial no Brasil

(Representação visual gerada pela IA Leonardo + Midjourney)

Além das terras indígenas, os colonizadores que chegaram ao território do Brasil também manifestaram interesse pelas almas dos povos nativos, que passaram a ser colonizados pela conversão cristã. Inicialmente, os católicos realizaram esta tarefa por meio das missões e trabalhos dos jesuítas, mas os protestantes que chegaram depois trataram de abordar os indígenas com a fé que traziam, sustentando a ideia de que os habitantes originários precisavam de salvação espiritual. Os cristãos reformados só começaram a chegar ao Brasil por ocasião da vinda dos holandeses a partir de 1630, e com eles chegou também a disposição de converter o máximo de indígenas.

Na área litorânea do nordeste do Brasil, os povos potiguaras já estavam em contato com europeus, franceses e portugueses, que iniciaram um trabalho de cristianização. A nova leva de forasteiros que disputou o domínio com os anteriores aproveitou para realizar sua própria tarefa de conversão, pois entre eles estavam pastores e pregadores com o propósito de expandir a presença cristã nas terras brasileiras a partir da vertente protestante.

Alguns dos indígenas cristianizados e instruídos acabaram sendo agentes facilitadores da própria colonização europeia em variados papéis. O famoso Antonio Filipe Camarão, índio potiguar, ficou reconhecido como comandante militar dos indígenas que engrossaram as fileiras alinhadas aos portugueses na guerra contra os holandeses no território brasileiro, posição que incomodava seu parente Pedro Poti, que apoiou o lado holandês.

Pedro Poti nasceu possivelmente em 1608 em terras da capitania do Rio Grande ou da capitania da Paraíba e era da etnia potiguara. Em 1625, ele conseguiu escapar do massacre da Baía da Traição, episódio no qual os portugueses atacaram o local no litoral da Paraíba, após os habitantes da aldeia local manterem contatos amistosos e cooperarem com participantes de uma expedição holandesa. Os holandeses levaram Pedro para a Europa, onde passou cinco anos sendo instruído. Em sua estada na Holanda, ele chegou a manter correspondência com o primo Filipe Camarão, comunicações nas quais ambos defendiam os lados aos quais se alinharam no conflito pelo território. Pedro denunciava a escravidão indígena, apontando os portugueses como agressores, e, em seu retorno ao Brasil, lutou contra as forças luso-brasileiras, comandando indígenas em confrontos.

Durante a fatídica Primeira Batalha dos Guararapes, em abril de 1648, Pedro Poti e Filipe Camarão estavam guerreando em fileiras opostas. No entanto, o comandante indígena aliado dos portugueses foi seriamente ferido no confronto e morreu pouco depois em consequência das lesões. Poti continuou resistindo pelo lado holandês, mas na Segunda Batalha dos Guararapes, em novembro de 1649, foi capturado. Como prisioneiro de guerra, sofreu torturas enquanto era acusado de traição e resistiu aos apelos e propostas para que mudasse de lado. Seus captores também tentaram forçá-lo a renunciar ao protestantismo em nome do catolicismo, ato que recusou. Sua resistência durante o sofrido período de prisão fez com que os portugueses decidissem levar a questão à temida Inquisição, embarcando Pedro Poti rumo a Portugal. No entanto, o líder potiguar não chegou ao destino, pois faleceu a bordo do navio aos 44 anos de idade, em 1652.

A designação de “traidores” para índios como Pedro Poti, que se aliaram aos holandeses, destaca a complexidade e o viés com que a história é frequentemente contada. Em uma análise mais profunda e contextualizada, é fundamental reconhecer que os próprios portugueses eram, de fato, invasores do território brasileiro. Assim, rotular os indígenas que escolheram aliar-se a um invasor em detrimento de outro reflete não só uma simplificação da dinâmica histórica, mas também uma tentativa de impor uma narrativa que favorece o domínio português. Ao invés de julgar as ações de Pedro Poti e de outros indígenas como “traição”, seria mais justo e acurado entendê-las como estratégias de sobrevivência e resistência em meio a conflitos entre forças colonizadoras estrangeiras em suas próprias terras.

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