Pazuzu: O demônio mesopotâmico “do bem” que foi parar no filme O Exorcista

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

Na mitologia mesopotâmica, o termo “demônio” não tem exatamente o mesmo significado que frequentemente é associado em culturas ocidentais contemporâneas. Nas antigas civilizações da Mesopotâmia, como Suméria, Acádia, Assíria e Babilônia, havia diversas divindades, espíritos e seres sobrenaturais que desempenhavam papéis variados. Os mesopotâmicos possuíam uma visão complexa do mundo espiritual, e muitos dos seres que, sob uma perspectiva ocidental, poderiam ser considerados “demônios” eram percebidos de forma mais ambivalente ou multifacetada. Alguns eram servidores dos deuses, enquanto outros podiam assumir papéis benevolentes ou malévolos, dependendo das circunstâncias e de suas naturezas.

Uma figura que, por vezes, é interpretada como um “demônio” mesopotâmico é Pazuzu, que era visto como um espírito protetor contra outros espíritos malignos. Ele possuía a forma de uma criatura grotesca com asas e rosto demoníaco, mas era invocado para proteção.

Conforme o mito, Pazuzu era filho de Hanbi, o rei dos demônios, e tinha a atribuição de comandar os ventos e seus efeitos, como as ventanias destruidoras, tempestades de areia e a estação seca, entre outros fenômenos ambientais. Por sua relação com as forças naturais, agricultores realizavam orações e oferendas para que Pazuzu fosse benevolente e favorecesse as colheitas. Certamente, a entidade não estava sujeita aos desejos humanos, mesmo diante dos apelos e oferendas. Assim, se os ventos e o clima causassem danos, Pazuzu era visto como o agente causador – embora deuses considerado bons também pudessem aprontar algum ato perverso de vez em quando.

A lenda relata que ele conquistou esse posto após travar uma luta intensa contra outros demônios, tornando-se uma figura temida entre eles. Este aspecto conferiu a Pazuzu uma reputação de ser capaz de agir contra demônios malfeitores, e por isso, ele era reconhecido pelas pessoas como um protetor. Um temor dos antigos mesopotâmicos estava particularmente dirigido a Lamashtu, demônia que causava doenças e matava crianças e mulheres grávidas. A invocação de Pazuzu era uma das defesas contra essa ameaça, o que lhe garantia grande popularidade e apelo.

E, apesar de todo esse status de demônio que lutava contra outros e que até protegia crianças, decidiram fazer dele o demônio que faz a cabeça da possuída girar no filme “O Exorcista”! Que decadência!