Mirza Shahab-ud-Din Baig Muhammad Khan Khurram nasceu em 1592 e foi o quinto imperador indiano da Dinastia Mogol, terceiro filho do fraco Jahângîr com uma de suas esposas, a princesa Rajpu. Era comum a ocorrência de disputas sucessórias e intrigas para conquistar o trono, e o príncipe Khurram – como era então conhecido – estava se precavendo para a possibilidade de lidar com conflitos, então tratou de pavimentar seu caminho ao trono através do destaque como conquistador, atuando em campanhas militares e fortalecendo sua liderança diante do exército, embora soubesse que o verdadeiro desafio sucessório fosse superar a vontade da imponente imperatriz Nûr Jahân, que basicamente governou em nome do marido durante boa parte de seu reinado. Por seu êxito militar que possibilitou a ampliação territorial do império recebeu do pai o título de Shah Jahān (“Rei do Mundo”), o que já indicava a possibilidade de ser o sucessor legítimo, mas por garantia chegou também a se casar com a viúva de seu irmão mais velho que era o herdeiro preferencial ao trono para ter ao menos um herdeiro masculino que pudesse ser sucessor e sobre o qual ele seria regente. Mas seu outro irmão Shâhryâr, ainda estava em vantagem, pois era também reconhecido por suas conquistas militares e tinha a vantagem de ser herdeiro nomeado por Jahângîr e apoiado por Nûr Jahân.
Foi coroado após a morte do pai em 1628 e após uma conflituosa e sangrenta disputa repleta de atos de traição e assassinatos, tendo ao seu lado como esposa principal a princesa persa Arjumand Banu Begum, com quem era casado desde os 15 anos e que recebeu o título de Mumtaz Mahal (“Jóia do Palácio”). A esposa morreu após um parto em 1631 e em sua homenagem Shah Jahān mandou construir o monumental Taj Mahal.
Ele manteve uma política expansionista tendo filhos que seguiram seu exemplo como comandante. Foram conquistadas mais terras mesmo diante da pressão e rivalidade dos persas, em seu reinado o Império Mogol atingiu o auge territorial e a capital foi transferida de Agra para Delhi em 1648. E além de conquistas militares outro marco do reinado de Shah Jahān foram as construções, influência de sua paixão pela arquitetura e pela glória de deixar um legado de grandes obras que levariam seu nome para a posteridade ao custo de enormes somas de gastos para construção e ornamentação. Ele dotou seus domínios com palácios, fortalezas e templos e em Delhi ele construiu uma nova cidade repleta de grandiosas edificações em um plano urbanístico ousado e eficiente. Ele também gostava de expor opulência através do uso ilimitado de joias incorporadas à ornamentação das construções e dos detalhes mais requintados e caros disponíveis.
O gosto extravagante pelo luxo começou a contrastar com o início dos insucessos na guerra, ocasião em que a administração pública começou a sentir os efeitos de sua vaidade. Começou a faltar recursos para bancar os gastos militares e a insatisfação no império pela situação geral também passou a ser um problema.
Os seus quatro filhos mais velhos, Dārā Shikōh, Murād Bakhsh, Shah Shujāʿ e Aurangzeb, que governavam províncias, passaram a agir feito rivais pelo futuro controle do império, sobretudo quando Shah Jahān já estava envelhecido e com problemas de saúde. Dārā Shikōh foi anunciado como o escolhido pelo pai, mas demais irmãos postulantes fizeram uma aliança não muito instável e nada duradoura para derrubá-lo. Depois disso, a habitual movimentação sangrenta se estabeleceu com irmãos eliminando irmãos pelo poder, então Dārā Shikōh foi assassinado, Murād Bakhsh guerreou contra Shah Shujā, Aurangzeb condenou Murād Bakhsh à morte e, finalmente, Shah Shujā foi assassinado por aliados de Aurangzeb na Birmânia.
Aurangzeb chegou dar um golpe e declarar-se imperador, confinando o pai em 1658. Shah Jahān permaneceu em prisão domiciliar até sua morte em 1666, aparado pela filha Jahanara Begum. Foi sepultado no Taj Mahal ao lado da primeira e inesquecível esposa.


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