Zoë Porfirogênita nasceu em 978 e era a segunda filha do imperador bizantino Constantino VIII, que além dela teve outras duas filhas: Eudóxia, a mais velha, e Teodora, mais jovem. Constantino era co-imperador desde os 2 anos de idade conforme uma tradição bizantina de dispor de dupla regência com uma pessoa figurando na condição de “titular” e outra como “auxiliar e reserva” com status e honras. Sendo assim, ele exercia o comando do império à sombra de seu irmão mais velho, o popular imperador guerreiro e grande conquistador Basílio II, e ambos conviveram com esta situação por mais de 60 anos. A bela Zoë era considerada a princesa que seria continuadora da dinastia, apesar do tio, que não sem descendentes diretos, detestar a ideia de que um homem fora da família viesse a usar a coroa um dia como consequência de um casamento com ela. Eudóxia foi descartada porque ficou desfigurada depois de contrariar varíola e Teodora era considerada muito feia para atrair um casamento, portando Zoë era a opção sucessória preferível. Em 996, Zoë chegou ter um acordo de casamento arranjado por seu tio imperador com Otto III, soberano do Sacro Império Romano, mas a união não se concretizou porque o noivo morreu às vésperas da oficialização do matrimônio e depois disso a princesa passou a ter uma vida de recolhimento no palácio e não voltou a ser acionada em acordos e alianças por mais de duas décadas.
Com a morte de Basílio sem herdeiros em 1025, Constantino VIII, que sempre esteve habituado a não assumir grandes responsabilidades porque estava suficientemente confortável enquanto seu irmão governava e guerreava, foi reconhecidamente um imperador desleixado e desconfiava de todos ao seu redor, então definiu que Zoë, agora aos 47 anos, deveria se casar com Romano, o prefeito de Constantinopla, designado como seu herdeiro e sucessor ao trono na condição de titular em desfavor das próprias filhas. Zoë assumiu o casamento por imposição do pai, pois não tinha qualquer interesse naquele que virou seu marido. Com a morte de Constantino VIII, em 1028, seu genro foi coroado como Romano III e Zoë assumiu a condição de co-imperatriz.
A relação do casal não era amistosa. Zoë, aos 50 anos, tentou sem sucesso engravidar para dar continuidade à dinastia e Romano III tampouco se importava com ela e até restringia os gastos da imperatriz. Com a frustração e o desgaste, fidelidade não era algo que importava ao casal imperial e ambos se envolveram em casos extraconjugais, então Zoë se apaixonou por Miguel, um jovem e bonito funcionário palaciano de origem pobre, e fazia questão de se exibir publicamente em companhia do amante, dizendo sem receio a quem quisesse ouvir que faria dele um imperador. Mesmo diante de toda esta situação embaraçosa, Romano III até fez do amante de sua esposa seu servo pessoal.
Em abril de 1034, o impopular e incompetente imperador Romano III foi encontrado morto em sua banheira, então Zoë era viúva. Para escândalo geral, no mesmo dia da morte do marido ela se casou com Miguel e no dia seguinte coroou o novo marido como Miguel IV. Depois do casamento e tendo sido alçado à condição inimaginável de imperador, Miguel IV designou seu irmão como efetivo governante e decidiu aproveitar-se das benesses de ser um imperador, enquanto isso, resolver confinar a esposa num recinto vigiado, afastando Zoë da vida pública e mantendo a imperatriz basicamente como prisioneira. Enquanto Zoë estava isolada e abandonada pelo homem a quem fez imperador, a situação política, militar e financeira do Império Bizantino estava caótica e vários focos de rebelião começaram a se manifestar. Miguel morreu de causas naturais durante essa fase em 1041 e a coroa acabou repousando sobre a cabeça de mais um aventureiro de última hora, seu sobrinho e herdeiro adotivo Miguel V, que ordenou o confinamento de Zoë em um convento. A crise se agravava enquanto o poderoso Império Bizantino experimentava uma sequência de péssimos soberanos, então Miguel V foi deposto após somente 4 meses no governo em meio a uma revolta popular que resultou numa invasão e saque ao palácio na qual o imperador incapaz foi preso, castrado e cego pelos rebeldes.
Sendo a legítima herdeira do trono, Zoë voltou à governar e fez as pazes com a irmã mais nova, Teodora, a quem mandou trazer de volta à corte depois de ter anos antes ordenado o confinamento em um mosteiro. Teodora foi coroada sua co-regente, estando o Império Bizantino sob a regência de duas mulheres, embora por um curto período, pois Zoë voltou a se casar por interesse e conveniência com um ex-amante, Constantino Monomachos, nobre experiente na administração pública, que coroou como Constantino IX, estando agora o império com três pessoas na regência ao mesmo tempo. Apesar de casado com Zoë, Constantino IX fez questão de manter com autorização da imperatriz seu relacionamento com outra mulher com quem já vivia antes de virar imperador, fato que causava várias críticas da nobreza bizantina. Apesar dos escândalos, o novo governo liderado por Zoë como regente principal conseguiu implementar uma série de ações para amenizar a situação de crises e a imperatriz era uma figura bastante popular.
Além de sua astúcia política, Zoë, sempre foi admirada pela beleza e continuava sendo uma mulher atraente mesmo com a avançar da idade. Ela era recorria a variados tratamentos de beleza e mantinha um laboratório de cosméticos em suas dependências no palácio. Morreu em 1050, aos 72 anos de idade.


[…] As voltas e reviravoltas de Zoë Porfirogênita, imperatriz bizantina […]