Paraguaçu: entre dois mundos

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

Guaibimpará (“Mar Grande”), filha do cacique Taparica nasceu por volta de 1503 na aldeia tupinambá localizada no atual município de Itaparica, na Bahia, teve uma experiência extraordinária que à levou para a Europa, para o Cristianismo, para a fortuna material e para os braços de um náufrago português.

Diogo Álvares Correia naufragou na costa baiana e escapou de ser comido por tupinambás canibais possivelmente por ter dado demonstração de bravura, o que lhe valeu o reconhecimento de seus quase algozes, que lhe chamaram de Caramuru, referência a um caramujo marinho ou moreia. Este intruso foi aos poucos sendo acolhido pelos indígenas e forjou relações importantes com os nativos. O forasteiro de terras muto distantes, do outro lado do oceano, atraiu a curiosidade de chefes tupinambás que fizeram ofertas irrecusáveis para o estranho: suas filhas por amizade. Mas sua escolhida como favorita, apesar de não ter sido única num cenário em que a poligamia era habitual, foi a bela Guaibimpará, que pela união passou a ser conhecida como Paraguaçu (“Água Grande”).

Paraguaçu, que também compartilhava Caramuru com a própria irmã Moema, contribuiu para o fortalecimento dos laços entre o português e seu povo e quando os assemelhados ao europeu voltaram, Caramuru fazia os contatos entre nativos e os viajantes, obtendo vantagens dos dois lados. A situação de Diogo com suas esposas indígenas chamou bastante atenção e ele foi convidado a voltar para seu continente acompanhado por nativos, sobretudo com uma esposa que seria apresentada como “legítima”, esta era exatamente Paraguaçu. Conta-se que que na ida para a Europa, o desespero de Moema foi tamanho que ela se jogou ao mar nadando em vão para alcançar o navio.

Paraguaçu foi apresentada na Europa como esposa de Diogo, mas era uma “selvagem” e “pagã” que precisava ser devidamente reconhecida aos olhos da fé cristã. A indígena foi batizada durante sua visita à França, sendo adotado por lá o nome Catherine du Brésil, homenagem à Catherine Desgranges, sua madrinha de batismo. Depois da conversão formal da indígena, o primeiro batismo de uma pessoa nativa do Brasil, em 30 de julho de 1528, foi celebrado o casamento católico do casal, que assim se sujeitaria às convenções da fé e formação de uma família autenticamente cristã.

De volta ao Brasil, Catarina Álvares realizou grandes coisas. Construiu igreja na futura Salvador e até formou um batalhão indígena para enfrentar e derrotar desafetos portugueses de Caramuru que o prenderam por causa de um desacordo, pois a relação entre ele e os novos chefes da colonização não eram das melhores. Caramuru morreu em 1557, deixando uma confortável herança para a esposa. O casal teve 4 filhas cristãs (Ana, Genebra, Apolônia e Grácia), que se casaram com colonos portugueses – embora Caramuru tenha tido também filhos e filhas com outras mulheres indígenas. Ela morreu em 1583, aos 80 anos, e foi sepultada capela que mandou construir.

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