O deus da flatulência

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

Os romanos contavam com a deusa Cloacina, ou mais exatamente Vênus Cloacina, forma divina encarregada da limpeza e purificação, a quem era consagrada a Cloaca Máxima, que era o colossal sistema de esgotos de Roma. Então se eles cultuavam uma deusa limpa e bonita para se meter na sujeira, como não deixar para o plano sobrenatural outros serviços sujos?

Que tal se uma divindade se encarregasse do conteúdo que parava nos esgotos? Este seria o papel de Crepitus, o deus da flatulência. O termo latino “crepitus” significa “ruído”, mas num contexto apropriado bastava para fazer entender que estava sendo empregado como “crepitus ventris”, ou seja, “ruído intestinal”. A divindade seria invocada quando o fiel estivesse com problemas intestinais ou estomacais que resultavam em constipação ou diarreia, então a tal entidade superior teria o poder de lidar com a falta ou o excesso de evacuação fecal.

Seria uma combinação curiosa da atuação divina a existência de uma deusa do esgoto e outro da matéria que ia parar lá, não fosse o fato de Crepitus ter sido uma divindade romana falsa que foi inventada por cristãos. Não há referências romanas citando um tal deus peidão, mas pioneiros cristãos satíricos da antiguidade criaram essa divindade tosca como meio de criticar o paganismo do império.

Como os romanos do campo também tinham o obscuro culto a um certo Sterquilinus, o deus dos fertilizantes (que eram basicamente matéria orgânica em decomposição e de odor desagradável), além de facetas e atribuições de outras divindades que respondiam por aspectos orgânicos nem sempre considerados agradáveis ou atraentes para a moralidade, então talvez caísse bem a invenção de um deus da flatulência e produtor de fezes.

A brincadeira até enganou algumas pessoas, inclusive estudiosos e literatos que citavam Crepitus como se realmente fizesse parte do panteão romano, ainda que na condição de mero figurante de pouco destaque.  

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