Luciano de Samósata viveu durante o período de aproximadamente 120 dC a 200 dC. Sua terra natal, que hoje é localizada no leste da Turquia, era parte da província romana da Síria que recebeu forte influência helênica. Depois de um frustrado início de carreira como escultor, ele resolveu que sua arte era a escrita e então passou a produzir em grego uma obra de forte carga satírica de perspectiva única e valiosa sobre a cultura, sociedade e história de seu tempo. Ele recebeu a formação de um retórico, mas ganhou a vida ensinando. Os dados biográficos a seu respeito são deduzidos a partir de seus escritos e por meio desses registros pode-se ainda considerar que Luciano foi um homem que obteve experiência e erudição também através da vivência em diversos lugares, possivelmente tendo fixado sua presença, além de Samósata, em lugares como na Jônia, na Gália, em algum lugar da Itália, em Antioquia e em Atenas até acabar em algum prestigioso cargo governamental no Egito sob a regência do imperador romano Comodus. Era um crítico das tradições religiosas e crenças sobrenaturais, além de também trazer em sua escrita satírica e irônica referências nada elogiosas a figuras públicas e intelectuais.
Luciano produziu uma prolífica obra de temáticas variadas geralmente impregnadas por seu estilo irônico e em meio a sua produção um texto em particular chama bastante a atenção. A obra intitulada Uma História Verdadeira é um romance narrado em primeira pessoa que é considerado como o precursor da ficção científica escrito em pleno século II. Ao ressaltar que todo o conteúdo de sua “história verdadeira” era mentira, Luciano já começou a estabelecer sua habitual postura satírica criticando autores consagrados que traziam narrativas repletas de atos incríveis e inverossímeis como se fossem fatos vividos e históricos, questionando como as pessoas não notaram que tais autores estavam mentindo em suas narrativas sobre fatos e personagens que tratavam como reais, alusão especial a consagrados nomes como Homero e Heródoto. E sua obra ficcional era realmente exageradamente fantasiosa ao trazer de forma proposital e provocativa situações e personagens espantosos.
O personagem da história, que também é Luciano (seu nome e variações dele costumavam ser utilizados nas suas obras), embarca numa viagem alucinante através de lugares inusitados e vivenciando experiências incríveis. Depois de ir além dos Pilares de Héracles para lugares que nem os heróis mitológicos conheceram e passando por uma ilha de criaturas abomináveis, um redemoinho leva os viajantes para a Lua, onde começa uma aventura espacial. Os seres da Lua e os seus rivais do Sol travam uma guerra pelo controle colonial da Estrela da Manhã, sendo o primeiro registro literário de uma guerra espacial travada por figuras incomuns que também correspondem aos primeiros seres alienígenas já descritos em uma obra escrita. Na Lula os visitantes terráqueos notam tecnologias incríveis como um espelho em um poço por meio do qual os seres lunares podem observar qualquer lugar da Terra. Tendo observado a incomum maneira de vida fora da Terra e após o fim do conflito por meio de um acordo entre os beligerantes, os aventureiros voltam para a Terra para viverem outras aventuras.
De volta ao planeta de origem, são engolidos por uma baleia gigante que abriga seres mutantes em sua barriga, mas conseguem escapar deste perigo para conhecer mais lugares espantosos, como uma ilha habitada por figuras infames do passado. Chegam ainda a um lugar habitado por criaturas inumanas feitas por material utilizado para iluminação e que geradores de uma fonte de energia, descrevendo assim os primeiros “robôs” dotados de inteligência artificial. A jornada segue na Ilha dos Benditos, local em que a sociedade é perfeita, as pessoas vestem-se de maneira diferente com uma roupa feita de teias, então vão de lá para um lugar sóbrio de aspecto infernal que exala cheiro de carne humana queimando, ou seja saem de uma utopia para uma distopia. A aventura acaba subitamente porque o autor anuncia que o restante da aventura será contado numa continuação, mas este segundo texto nunca foi escrito ou se perdeu.
De maneira inovadora, a obra de Luciano apresenta uma série de elementos que vários séculos adiante acabariam sendo comuns nas obras de ficção científica. Ele trouxe para leitores na Antiguidade uma fantasia com viagem espacial, guerra estrelar, seres alienígenas de aparência estranha, insetos gigantes, atmosfera artificial e ar líquido, reprodução assexuada em que um novo indivíduo nasce a partir de uma parte do corpo de outro, mutações, tecnologias de observação, criaturas metálicas autômatos sem vida e com inteligência, fenômenos físicos anômalos e alternativos, representações futurísticas e até a proposta (embora não cumprida) de continuação da história em um outro episódio narrativo da ação, enfim, são vários elementos que a ficção científica explorou e desenvolveu posteriormente.
Luciano acabou influenciando autores inovadores séculos adiante.
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