A Guerra de Sucessão Bretã (1341-1365) se arrastava consumindo vidas enquanto nenhum desfecho tomava forma. O conflito era um dos cenários da tumultuada Guerra dos Cem Anos (1337-1453), que mobilizava ingleses e franceses em uma longa disputa dinástica e territorial e em particular, no caso da situação bretã, tratava da luta entre as casas de Blois e Montfort pelo Ducado da Bretanha que acabou tendo contornos mais amplos porque as monarquias da França e Inglaterra tomaram partido na disputa.
O Duque João III comandava a Bretanha enquanto lidava com as intrincadas conexões entre interesses e alianças em seus domínios, principalmente com as ameaças representadas por seus próprios parentes. Após a morte do duque sem deixar herdeiros diretos legítimos, seu renegado meio-irmão João de Montfort reivindicou o poder sobre a Bretanha, mas João III manifestadamente declarou que sua sobrinha Joana de Penthièvre deveria herdar tudo sob a atuação de seu marido, Carlos de Blois. Para assegurarem suas pretensões, Monfort buscou seus laços do outro lado do Canal da Mancha e recebeu apoio inglês, enquanto Blois contou com apoio francês, daí partiram para a briga carregando com eles os interesses das duas coroas rivais.
Com a chegada dos dez anos de guerra pelo controle da Bretanha em uma disputa equilibrada e ao mesmo tempo sem rumo, surgiu uma inusitada proposta de um combate nos moldes cavaleirescos da demonstração de perícia, coragem e honra. A proposta surgiu depois de um desafio do capitão francês Jean de Beaumanoir ao capitão inglês Robert Brandebourch para a realização de um duelo, mas chegaram à conclusão de que seria mais interessante organizarem um confronto mais instigante entre times dos dois lados. Cada lado indicaria trinta campeões para travarem um confronto com dia, local e condições previamente estabelecidas.
Em 27 de março de 1351, os dois grupos se encontraram conforme o combinado. No campo de batalha escolhido e anunciado também se reuniram os espectadores quem compareceram para testemunhar o enfrentamento. Ninguém além dos escolhidos para participar do combate deveria se intrometer, estando apenas ali para apoiar seus times e apreciar a “diversão”. Aos se dado o sinal para o início do evento, os cavaleiros e escudeiros partiram para a briga devidamente armados e com suas armaduras, além de alguns deles montados em seus cavalos. E brigaram duramente até a exaustão. Foi permitido que realizassem um intervalo combinado para retomada do fôlego, um gole de vinho, tratar de ferimentos e ajustar as armaduras, mas depois disso voltavam a lutar. Depois da pausa, no segundo tempo da disputa, os ingleses sofreram um abalo logo após um ataque muito bem executado pelo escudeiro francês Guillaume de Montauban, que montado em seu cavalo rompeu a armação defensiva dos oponentes numa ação ousada que resultou na morte de oito oponentes após sua ação – incluindo o capitão Robert Brandebourch entre as baixas fatais. Com o desfalque os ingleses decidiram se render e foram presos pelos vitoriosos, mas também estava acordado que deveriam receber um tratamento honroso como derrotados até a libertação mediante pagamento de um resgate.
O episódio da Batalha dos Trinta não definiu a guerra, não causou efeito sobre o andamento do conflito e nem perturbou a causa envolvida, mas acabou servindo como exemplo e símbolo da conduta cavaleiresca medieval.
Ao final da Guerra de Sucessão Bretã, Montfort e seus aliados ingleses saíram triunfantes e firmaram um acordo de paz com os Blois e Penthièvre que valeria ao menos para a situação da Bretanha, mas os ingleses e franceses continuaram em guerra durante muito tempo ainda.


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