O estranho uso medicinal de fumaça de fumo por via retal

Representação visual gerada pela IA Leonardo

Os xamãs indígenas na América do Norte recorriam ao uso de fumaça de fumo de tabaco soprada a partir de seus cachimbos sobre os convalescentes como método curativo para diversos males do corpo. Alguns ingleses que testemunharam a prática nos idos do século 18 acharam que havia ali um potencial interessante para aplicação medicinal e resolveram levar a ideia para a Europa, mas incrementaram sua aplicação.

O tabaco americano já estava sendo explorado por europeus na preparação de medicamentos para variados fins, mas a técnica do uso da fumaça curativa proveniente do fumo começou, por incrível que pareça, a ser considerada boa para tratamentos respiratórios. Depois a aspiração da fumaça já era empregada para diversos fins terapêuticos

Daí então holandeses começaram a tentar inflar pulmões de vítimas de afogamento e os ingleses radicalizaram a iniciativa ao concluírem que era mais eficiente fazer a fumaça tomar o corpo do paciente a partir do ânus. O pioneirismo do método é atribuído ao doutor Richard Mead, em 1746, que passou a realizar sua aplicação quando ocorria um afogamento iatrogênico (tipo de afogamento acidental ocorrido em procedimentos médicos) em seus pacientes durante o procedimento médico da terapia por imersão. Depois disso a providência passou a ser difundida e até realizada de formas improvisadas em casos de emergência. Conta-se de um caso de uma mulher que sofreu um acidente e caiu no rio, sendo retirada da água afogada e precisando de reanimação urgente, ocasião em que surgiu um transeunte conhecedor da técnica que recomendou ao marido a aplicação da estranha forma de reanimação usando o seu cachimbo. O salvamento da senhora funcionou e todos concluíram que a fumaça via retal foi a responsável pelo milagre.

Mulher vítima de afogamento sendo socorrida através da técnica que usava fumaça de nicotina via retal

Mais profissionais médicos passaram a explorar e aperfeiçoar a técnica, que se prestava a aquecer, secar as vias respiratórias, impulsionar os batimentos do coração e forçar respiração da vítima de afogamento a partir do reto. A nicotina, segundo acreditavam os médicos adeptos dessa abordagem, era o componente que favoreceria toda essa ação no organismo de quem se afogava. O uso improvisado de cachimbos convencionais em posição invertida deixou de ser apropriado porque eram curtos e deixavam o socorrista muito próximo do traseiro da pessoa atendida, proporcionando riscos de infecção por parte de quem operava o procedimento no caso da comum ocorrência de evacuação acidental, além dos riscos de queimadura na boca de quem estava soprando. Passaram em seguida a usar tubos compridos para serem introduzidos no reto enquanto na outra ponta desse tubo era soprada a fumaça e então o aperfeiçoamento da técnica evoluiu para o desenvolvimento de um equipamento de salvamento especificamente desenvolvido para esse fim, que era dotado de tubos flexíveis, bicos apropriados para a introdução retal, fole e fumigador.

Estojo de primeiros socorros em caixa de madeira para reanimação via retal da primeira metade do século 18

Considerando que se a técnica “ressuscitava” pessoas afogadas, então também teria potencial para implementar o tratamento para outras condições como dores crônicas, doenças respiratórias, fraqueza, problemas digestivos, enfim, a nicotina via retal era um sucesso médico!

A partir do final do século 18 médicos críticos já começaram contestar a eficiência do procedimento e enfim em 1811 estudos do doutor Benjamin Brodie atestavam a toxidade da nicotina e então a aplicação anal passou a ser descartava como possibilidade para qualquer aplicação médica.

3 comentários

  1. […] A execução foi marcada para o dia 14 do mesmo mês. Foi enforcada diante de espectadores que não se incomodaram com o clima frio que dominava aquele dia. Como de costume, os corpos de pessoas executadas podiam ser destinados aos estudos médicos, e este foi o destino de Anne. Mas, enquanto estava prestes a ser dissecada na Universidade de Oxford, os médicos perceberam que ela estava inerte, desacordada, porém ainda viva. Eles apelaram para métodos usuais de reanimação, como esfregar os membros e aplicar uma infusão de tabaco. […]

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