O sultão que governou por 2 dias e perdeu uma guerra que durou 38 minutos

Representação visual gerada pela IA Midjourney

A história do brevíssimo reinado do sultão ocorreu no confuso contexto das disputas imperialistas entre as potências europeias que interferiam de variadas maneiras na autonomia de países africanos e asiáticos. Zanzibar é constituído por duas ilhas no litoral leste africano e nos idos de 1890 foi objeto do Tratado de Heligoland-Zanzibar, acordo entre Alemanha e Inglaterra que definia a divisão entre as áreas de influência e interesse dos dois países sobre a África Oriental. Conforme o acordo, as ilhas de Zanzibar e Pemba caíram sob o controle inglês e os alemães ficaram com a Tanzânia, do outro lado do canal oceânico.

Zamzibar, agora protetorado do Império Britânico, teve que aceitar condições impostas como efeitos de sua situação limitante. Uma dessas consequências foi ter um governo dominado pelos britânicos com a destituição Barghash bin Said e consequente afastamento de seu filho, Khalid bin Barghash, então um jovem de 16 anos, da linha sucessória.

Os britânicos colocaram o aliado Hamed Bin Thwain no trono em 1893 e seu governo foi relativamente sossegado, mas ele morreu em 25 de agosto de 1896 em condições suspeitas, pois especulava-se que a boa e velha artimanha do envenenamento foi empregada como providência para se livrar do sultão. As suspeitas recaíram sobre Khalid bin Barghash, pois sem demora ele já se instalou no palácio proclamando-se sultão no mesmo dia da morte de Hamed Bin Thwain.

A Inglaterra imediatamente se recusou a reconhecer seu governo e então começou a pressão contra o novo sultão. O embaixador Basil Cave exigiu sua imediata apresentando uma ameaça de reação armada. A essas alturas o sultão já havia enchido o palácio e seus arredores de soldados prontos para conter uma eventual invasão, mas isso não intimidou os britânicos, que já tinham uma frota de navios de guerra na costa em prontidão para atacar e um batalhão em prontidão para agir por terra e defender a embaixada de uma eventual reação.

Ainda durante a noite de 26 de agosto, os britânicos marcaram um horário para a renúncia de Khalid bin Barghash, que deveria se retirar do palácio e promover a evacuação dos soldados às 9 horas da manhã do dia seguinte, mas o sultão resolveu responder que não obedeceria. Conforme a reconhecida pontualidade britânica, no horário marcado foi dada a ordem de ataque e o palácio começou a ser bombardeado com todos os ocupantes ainda lá dentro.

Khalid fugiu pelos fundos do palácio logo após os primeiros disparos, dando um péssimo sinal para os combatentes que convocou. A correria foi generalizada e os cerca de 3 mil soldados e partidários do sultão se dispersaram em desespero. Por volta de 9:40 a bandeira de Khalid foi retirada do que sobrou do palácio e seu governo acabou sem completar 48 horas de vigência.

A Guerra Anglo-Zanzibar durou muito pouco e é conhecida como a mais curta de todos os tempos, mas deixou um saldo de baixas desproporcional, com cerca de 500 mortos e vários outros feridos do lado de Zanzibar e apenas um oficial machucado do lado britânico.

O sultão fugitivo correu para a embaixada alemã, de onde conseguiu ser removido escondido para domínios alemães na parte oriental de África e só foi capturado pelos britânicos durante a Primeira Guerra Mundial e então aprisionado na Santa Helena, de onde saiu sob permissão do governo britânicos em 1922 para o exílio em Mombaça, no Quênia, onde morreu em 1927.   

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