Catalina de Erauso: Uma vida entre violência e desafios às convenções sociais

Representação visual gerada pela IA Midjourney

Catalina de Erauso, também conhecida como a “Freira-Alferes”, foi uma figura controversa que desafiou as convenções sociais de sua época. Nascida em San Sebastian, Espanha, em 1592 (ou possivelmente em 1585), de uma família de tradição militar, Catalina foi criada em um convento dominicano desde tenra idade juntamente com as irmãs Isabel e Maria. No entanto, aos 15 anos, seu comportamento no recinto religioso era considerado inadequado por causa de sua indisciplina e constantes brigas. Sentindo-se aprisionada pelas restrições monásticas, ela tomou a audaciosa decisão de fugir, vestindo-se como homem para escapar do convento depois de ter sido detida por agredir uma colega noviça.

Vagou pela Espanha, assumiu a identidade de Francisco de Loyola, teve empregos pouco promissores, envolveu-se em brigas, praticou pequenos furtos até encontrar serviço em um galeão que foi para a América. Agora como como soldado, envolveu-se diretamente nas missões de conquista territorial e submissão dos indígenas, mas também em uma série de outros conflitos e confusões. Durante esse período em que atuou em territórios que depois corresponderiam a Venezuela, Colômbia e Panamá, participou de roubos, duelos e chegou a matar um tio. Mudava de identidade frequentemente para fugir e também se envolveu com mulheres, inclusive com a irmã de seu comandante, o que lhe valeu uma transferência para o Chile para lutar contra os valentes e temidos índios mapuches, onde continuou manifestando seu temperamento violento, pois nesta fase abusou da crueldade contra indígenas e matou mais um parente, dessa vez a vítima foi seu próprio irmão que não foi capaz de superar sua habilidade na esgrima em um duelo. Conheceu a prisão, mas por pouco tempo, pois fugiu e aplicou golpes em colonos fingindo aceitar noivados para ter acesso ao dinheiro das vítimas. Agora vivendo de contrabando, mais problemas e mais brigas resultaram em novas detenções e enfim confessou ser mulher para evitar a execução.

Com ajuda do bispo evitou a forca, mas foi expulsa da colônia e enviada de volta para a Europa, onde se atreveu a processar a Coroa exigindo ser recompensada pelo tempo de serviço na América. Especula-se que tenha vivido um período na Itália e durante esta fase teve a oportunidade estar em uma audiência como papa Urbano VIII, que, segundo relato de Erauso, lhe permitiu continuar se trajando feito homem e determinou que parasse de atentar contra as vidas de outras pessoas.

Acabou de volta à América em 1635, dessa vez em territórios do México, para trabalhar com o transporte de cargas. O destino final de Catalina de Erauso permanece um mistério, pois há apenas especulações variadas sobre o ano ou condições de sua morte, incluindo a possibilidade de que tenha vivido até 1650 na pequena vila de Cotaxtla, onde afirmam que foi sepultada.  

Sob mais uma de suas identidades masculinas, registrou sua trajetória para o dramaturgo Juan Pérez de Montalván em 1626, que redigiu a obra só publicada pela primeira vez em 1829 em Paris. Sua identidade sexual tem sido objeto de discussão, pois em suas memórias Erauso ressaltou que permaneceu virgem, se identificava de forma masculina e não revelou ter tido atração por homens enquanto traz relatos de casos com mulheres. Estudiosos contemporâneos debatem se Erauso era transgênero.  

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