Depois do infeliz desfecho do reinado de Montezuma II, o trono asteca passou para seu irmão, que se chamava Cuauhtlahuac, nome que tem o belo e poético significado de “Águia sobre a Água”, mas o novo Tlatoani teve um problema adicional além de lidar com uma invasão espanhola apoiada por outros povos indígenas inimigos dos astecas que resolveram se aliar aos invasores que vieram de longe. Este problema acabou afetando a honra do infeliz asteca nos registros históricos, pois Malinche, a tradutora indígena a serviço de Hernán Cortés (e que virou sinônimo de traidora no México), resolveu aprontar um gracejo na hora de providenciar a formalização da informação do nome do rei e fez constar para os espanhóis que o nome era Cuitláhuac, cujo significado não tinha nada de imponente.
Conforme o idioma nahuatl, falado pelos astecas, o nome que Malinche atribuiu em sua tradução sacana poderia ter duas possibilidades de tradução. A primeira seria a combinação de cuitlatl (que significa “excremento”) e de huactli (que significa “pássaro”), ou seja, o nome registrado nos documentos espanhóis e nas primeiras obras históricas sobre o domínio espanhol sobre o México citavam um rei cujo nome era “Merda de Pássaro”. A segunda possibilidade de tradução apresenta a palavra huac como um sufixo passivo, um elemento adicionado ao final de um verbo para indicar uma voz passiva, ou seja, a ação sendo recebida pelo sujeito da frase em vez de ser realizada pelo sujeito, então o nome do rei seria traduzido como algo do tipo “Ser Excrementado” – sugerindo que que o nome do soberano de um povo inteiro o identificava como alguém sujo de fezes ou alguém que foi cagado.
Malinche aproveitou a sua condição de tradutora oficial (e amante) de Cortés para tirar um sarro dos astecas que dominaram o seu povo. E sobrou para a reputação de Cuauhtlahuac.


[…] Um rei asteca na merda… […]