As Vênus pré-históricas

Representação visual gerada pela IA Midjourney

As Vênus pré-históricas são um conjunto de esculturas que datam de cerca de 30 mil anos atrás. Elas são representações artísticas de mulheres obesas ou grávidas e foram encontradas principalmente na Europa e estepes russas. Essas estatuetas, esculpidas em pedra, marfim ou argila, variam em tamanho e foram usadas como amuletos.

Por volta de 48 mil anos atrás, a Europa experimentou um período de aquecimento, no qual os humanos aurignacianos (nomeados após o sítio arqueológico de Aurignac, no sul da França, onde foram encontrados vestígios dessa cultura pré-histórica) caçavam renas, mamutes e cavalos no inverno, além de se alimentarem de peixes, plantas, nozes e frutas no verão. No entanto, as temperaturas começaram a cair e as camadas de gelo avançaram novamente, ameaçando a sobrevivência dos grupos caçadores-coletores. Conforme as geleiras se expandiam, os recursos alimentares se tornaram escassos e os bandos humanos enfrentaram períodos de grave escassez. Alguns grupos buscaram refúgio em áreas florestais ou migraram para o sul do continente. Nesse contexto de escassez alimentar e desafios de sobrevivência, as estatuetas de Vênus pré-históricas podem ser compreendidas como uma resposta cultural e adaptativa. A obesidade representada nessas figuras femininas pode ter sido valorizada como um sinal de saúde e capacidade de sobrevivência durante períodos de estresse nutricional, sendo uma vantagem para a sobrevivência.

As estatuetas femininas rechonchudas têm sido objeto de debate e interpretação ao longo dos anos. Tradicionalmente, elas foram associadas à fertilidade e beleza, sendo chamadas de Vênus em referência à deusa grega do amor e da fertilidade.

Pesquisadores sugerem que essas figuras representam um ideal estético da época em que foram criadas. As estatuetas seriam, então, uma idealização da forma corporal obesa e também funcionariam como amuletos para atrair alguns quilos extras, considerados importantes para enfrentar a falta de comida.

Além disso, as estátuas podem ter tido um significado espiritual, sendo consideradas fetiches ou artefatos mágicos que poderiam proteger as mulheres durante a gravidez, o parto e a amamentação. As estátuas eram passadas de mãe para filha, por várias gerações, e era comum presentear mulheres jovens que estavam entrando na puberdade ou nos primeiros estágios da gravidez com essas esculturas, na esperança de que ganhassem peso para garantir um parto bem-sucedido. Recentemente foram observadas mais evidências da relação entre as dificuldades de obtenção de recursos alimentares em função das dificuldades ambientais e as estatuetas gordinhas. Um mapeamento dos achados arqueológicos destes artefatos indicou que a obesidade nas estatuetas diminui à medida que a distância das áreas mais gélidas aumenta, sugerindo uma correlação entre obesidade e avanço das geleiras, ou seja, quanto mais fria a região, mais gordas são as suas Vênus.

Mapa indicando regiões de achados de estatuetas

Perspective: Upper Paleolithic Figurines Showing Women with Obesity may Represent Survival Symbols of Climatic Change

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