Joan, uma freira medieval que forjou a própria morte para escapar do convento

Representação visual gerada pela IA Midjourney

As mulheres não possuíam mesmo muitas opções na Idade Média. Não era viável escolher uma carreira livremente. Restava o trabalho no campo, atividades artesanais, cuidar da casa, contrair um casamento arranjado ou virar freira – fora opções desonrosas que também existiam.

O compromisso da vida de freira medieval era exigente, sendo necessária a abdicação de prazeres mundanos e a dedicação à rígida rotina religiosa nos conventos hierarquizados e isolados das influências externas.

A irmã Joan, natural de Leeds, Inglaterra, foi uma freira que ingressou no convento de São Clemente, na cidade de York. Na época de Joan, no início do século 14, ingressar para a vida religiosa como freira era um caminho comum para moças a partir dos 14 anos de idade, seja por escolha própria ou por imposição dos pais, mas a jovem rebelde Joan não pretendia levar esse compromisso adiante.

Largar a vida religiosa não era simples, pois o ingresso no convento era encarado como a jornada de uma vida inteira de renúncias em nome da fé e das duras provações exigidas. Não se abandonava o compromisso simplesmente por vontade e sem encarar as consequências. Joan sabia disso, mas sabia acima de tudo que queria ir embora de São Clemente.

Um dia a jovem freira teve a ousadia de executar um mirabolante plano de fuga, fingindo a própria morte para renascer fora da vida monástica. Joan engendrou uma espécie de manequim para se passar por ela, um artefato que, segundo os registros, foi caprichosamente preparado “à semelhança de seu corpo” e deu um jeito de colocar o objeto falso em posição que pudesse ser confundido com um cadáver de verdade para ser dada como morta e ao mesmo tempo distrair as demais irmãs beneditinas enquanto escapulia do convento devidamente disfarçada.

página do livro de registros do arcebispo contendo a incrível fuga de Joan

O ardil funcionou e ela consegui sair de lá. Obviamente ficou evidenciado logo em seguida que era uma tapeação, mas aí já era tarde e ninguém tinha pistas do paradeiro de Joan. Em nota no livro de registros de 1318 arcebispo William Melton dava conta da situação, ressaltando que “ela agora vagueia livremente para o notório perigo para sua alma e para o escândalo de toda a sua ordem”. As buscas pela freira travessa acabaram a identificando em Beverley, a uns 50 quilômetros do convento, mas a moça não queria nem saber de voltar, levando Melton a desabafar: “Tendo dado as costas à decência e ao bem da religião, seduzida pela indecência, ela se envolveu irreverentemente e perverteu seu caminho de vida arrogantemente para o caminho da luxúria carnal e se afastou da pobreza e da obediência”.

Nada mais se sabe sobre a vida de Joan desde este último registro sobre seu paradeiro.

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