O caso da última mulher na fogueira na Inglaterra

Representação visual gerada pela IA Midjourney

Falsificar dinheiro era considerado crime de traição entre os ingleses até 1790, delito que rendia pena de morte. Mas entre os gêneros das pessoas condenadas as execuções não eram iguais, pois os homens terminavam enforcados no cadafalso e mulheres conheceriam a agonia de queimarem em uma estaca, feito as bruxas e hereges degeneradas medievais. Em 1789, a condenada por falsificação Catherine Murphy (também conhecida como Christian Bowman) foi a última mulher a sofrer este destino na Inglaterra.

Ela e o marido, Hugh Murphy, foram pegos cunhando moedas falsas, produzindo de metal sem valor réplicas de moedas de xelim que eram pintadas para parecer que eram de prata. Durante o julgamento a mulher tentou apelar por clemência dizendo que estava grávida, mas um exame não confirmou sua declaração, então a sentença foi imposta de qualquer forma e a criminosa, conforme a lei, foi condenada a “ser queimada com fogo até que morresse”.

Em 19 de março de 1789, no fatídico dia da execução na Prisão de Newgate, outras execuções também foram realizadas e a infeliz Catherine, contrariando a cortesia que previa “damas primeiro”, seria a última a conhecer seu fim, então ela passou pelos corpos pendurados dos outros réus – inclusive o marido – no pátio da prisão até chegar até a terrível estaca fincada no chão, onde foi devidamente amarrada para cumprir sua sentença. Mas, enfim, lhe foi dado um gesto de piedade final para poupar as dores do método punitivo exigido pela lei e o oficial da execução autorizou que mesmo lá na estaca onde estava prestes a ser incinerada a condenada foi suspensa por uma corda no pescoço para morrer enforcada e só depois disso ter a fogueira acesa – havia precedente dessa benevolência final. O oficial chegou a ser ameaçado de processo por não cumprir a lei tal qual era previsto, mas o caso contra ele não seguiu adiante.

A repercussão da execução da pobre Catherine foi discreta, mas as críticas ao método bárbaro de punição já circulavam entre comerciantes das proximidades porque as pessoas evitavam os estabelecimentos porque ficavam enojadas pelo cheiro de carne humana queimada. A imprensa também já tratava abertamente, denunciando o quanto isso era antiquado e cruel e enfim a questão chegou em 1790 ao parlamento, onde foi apresentado um projeto para alterar a lei, oficializando que homens e mulheres deveriam ser igualmente enforcados nesses casos, sem que nenhuma senhora acabasse em uma fogueira por falsificação. No mesmo ano um caso semelhante ao do casal Murphy teve um desfecho diferente, quando a mulher Sophia Girton e seu companheiro Thomas Parker foram também condenados por falsificação de moeda. Enquanto o homem foi enforcado, a mulher teve uma sorte diferente e foi condenada a passar o resto da via na cadeia.

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