Durante a metade do século 19 a região da Califórnia, nos EUA era cheia de tumultos e conflitos. Em 1848 o Tratado Guadalupe-Hidalgo expressava o reconhecimento mexicano de derrota para os EUA e cedia em troca de uma indenização irrisória os territórios que atualmente correspondem aos estados do Texas, Novo México e Califórnia, mas o clima de hostilidade perdurou após o tratado através de variados incidentes e movimentos em meio ao cenário violento do Velho Oeste. Bandidos e gangues cruzavam a região espalhando medo e atos criminosos, sobretudo com o advento da chamada “Corrida do Ouro” (1848-1855), fase em que a mineração do metal precioso atraiu migração, sonhadores, exploradores e todo tipo de aproveitadores, incluindo os fora-da-lei, todos motivados pelo enriquecimento.
Nesta fase os EUA já impunham restrições a quem era procedente do país que anteriormente possuía os territórios auríferos, então mexicanos encontravam dificuldades para explorar ouro ou mesmo para sobreviver por lá. Além de camponeses e pequenos proprietários, mineiros mexicanos que já andavam escavando por lá desde antes do tratado territorial começaram a ser perseguidos e expulsos. Muitos desses homens encontraram no crime um meio de ter acesso à fortuna que começava a circular por lá. Foi nesse contexto que o nome de Joaquín Murrieta começou a estar presente nos relatos sobre a atuação de bandos armados que atacavam mineradores e viajantes na Califórnia.
Um tal bandido Joaquín estava sempre presente em queixas de assaltos e bem que poderiam ser diversos bandidos chamados Joaquín por se tratar de um nome comum até que surgiram relatos mais específicos sobre um sujeito de nome Joaquín Murrieta que mesmo bem jovem liderava uma quadrilha muito perigosa e aterrorizava os colonos e autoridades. Joaquín Murrieta teria nascido por volta de 1829 em Sonora, no México. Há uma versão de que Murrieta era chileno de nascimento e que migrou para o México em busca de fortuna. O drama em torno de sua gênese para o crime envolve o fato de que teria sido vítima de uma acusação injusta de roubo ao lado de seu irmão, que foi enforcado pelo suposto crime enquanto Joaquín foi açoitado e teve que ver ainda sua jovem esposa, chamada Rosa Feliz, morrer em seus braços depois de ter sido estuprada e espancada. Antes de passar por isso era dito que Joaquín era um pacífico jovem garimpeiro que sentiu o efeito das hostilidades posteriores ao Tratado Guadalupe-Hidalgo. Este episódio dramático forjou no rapaz uma fúria violenta e vingativa contra aquilo que considerava injusto. Tratou inicialmente de retaliar os agressores que mataram seu irmão e sua amada, daí passou a atuar no bando Los cinco Joaquines, promovendo assaltos e assassinatos por onde passavam. Com a morte de seu ex-cunhado Claudio Feliz (irmão de sua falecida esposa), um notório bandido com vasta carreira criminal, Joaquín assumiu o comando de seus homens e era líder de uma verdadeira força armada de criminosos em 1851. A quadrilha realizou ousadas investidas marcadas por violência contra colonos e garimpeiros e ficou logo famosa. Também começaram a surgir relatos de que Murrieta começou a fazer distribuição de outro entre mexicanos pobres e excluídos das posses que foram de seu país.
O governo da Califórnia resolveu estabelecer uma perseguição ao bando através da contratação de homens chefiados pelo pistoleiro Harry Love para agir da captura e da oferta de uma rica recompensa pela prisão ou morte de seu líder. Em 1853, em um tiroteio que encurralou a quadrilha, Love alegou que matou Murrieta e para provar arrancou sua cabeça e colocou em uma jarra de uísque, que ele costumava exibir por onde passava até que o souvenir macabro acabasse em um salão em São Francisco para ser admirado mediante a cobrança de ingresso.
Mesmo havendo dúvidas sobre o fato de que a cabeça era realmente de Joaquín ou se realmente ele foi morto como dizia Harry Love (não existiam fotografias do bandido nem sequer relatos confiáveis sobre sua aparência para atestar isso), surgiram estranhos relatos de assombrações que davam conta da aparição de Murrieta aparecendo reivindicando sua cabeça e de maldições associadas à ultrajante atração. Em 1863 a alegada cabeça de Joaquín Murrieta foi perdida por ocasião do terremoto que arrasou São Francisco.
Enquanto Joaquín Murrieta era retratado como malfeitor perigoso pelas autoridades dos EUA, entre a população mexicana dos dois lados da fronteira ele ela visto como um vingador justiceiro, um símbolo de resistência. A figura do justiceiro pode ter sido a inspiradora influência para a criação do famoso personagem Zorro.


[…] Joaquín Murrieta, o Robin Hood mexicano e possível inspiração para a criação do personagem Zor… […]
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