Pedro I de Portugal e Inês de Castro: Uma história de amor, sangue e vingança

(Representação visual gerada pela IA Midjourney)

Histórias românticas trágicas viraram temas populares na literatura mundial, pois envolvem emoções humanas profundas, ressaltando como o amor é capaz de resistir aos mais extremos obstáculos. Os casos reais de romances marcados pelos sofrimentos e dramas são também capazes de cativar uma duradoura atenção, pois a comoção que despertam pode ser tão profunda quanto o que se vê nas tramas pensadas pelos artistas com o propósito de sensibilizar quem lê as histórias de amor repletas de apelos pensados e inspirados para emocionar. Um desses casos reais envolve o príncipe português Pedro e sua amada Inês de Castro, que viveram um amor proibido no século XIV.

Pedro de Portugal, nascido em 1320, era o herdeiro do trono, filho do rei Afonso IV e de Beatriz de Castela. Seu pai, conhecido como “O Bravo” era o sétimo rei português, regendo de 1325 até 1557, num contexto de tensões com o reino vizinho de Castela. A união do rei com Beatriz, princesa de Castela, fazia parte do esforço diplomático para atenuar as divergências entre os dois reinos e fortalecer uma integração positiva.

Casamentos entre pessoas da nobreza cumpriam um caráter estratégico muito importante e eram tidos como um ato de sacrifício pessoal dos nubentes em favor dos interesses do Estado. Era comum que os casais sequer tivessem a oportunidade de firmar vínculos afetivos antes da realização dos matrimônios, pois acordos prévios e feitos por outras pessoas em posição de poder já haviam definido as uniões baseadas em interesses políticos.

O jovem príncipe Pedro já estava sendo preparado para assumir as responsabilidades de um futuro rei e precisou cumprir o compromisso de um casamento arranjado. Foi acertado seu casamento com Constança Manuel, filha de um nobre castelhano, como forma de dar continuidade à aliança entre Portugal e Castela. Em 1336 os dois se casaram conforme o previsto pela diplomacia dos reinos, mas o que não estava nos planos de ninguém foi o envolvimento do príncipe com Inês de Castro, uma jovem que chegou da Galícia em 1340 para servir de dama de companhia de sua esposa.

Pedro e Inês se apaixonaram e mantinham o relacionamento em segredo, mas quando Constança morreu, em 1345, eles tornaram o envolvimento um fato público, mas era um amor proibido e causador de problemas na corte. A origem galega de Inês era uma condição preocupante porque seus filhos poderiam reivindicar posições na sucessão portuguesa e isso acabaria afetando a relação com Castela, além de poder colocar Portugal diante do risco de um futuro domínio de uma dinastia galega. Eram possibilidades que os nobres portugueses e o rei Afonso IV gostariam de evitar a todo custo, mas as pressões pelo imediato fim do relacionamento foram desprezadas por Pedro, que não abria mão de Inês.

O ato extremo adotado foi o assassinato de Inês, em 7 de janeiro de 1355. Ela estava no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra, onde vivia com os três filhos que teve com Pedro, quando o local foi invadido por Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco, homens de confiança do rei. Os assassinos apunhalaram a mulher com vários golpes, efetuando um assassinato brutal. Inês tinha 30 anos de idade.

Pedro ficou devastado e decidiu que não se casaria novamente e não cumpriria esse tipo de acordo político. Ele teve dois filhos legítimos com Constança e acabou reconheceu publicamente os outros três que teve com Inês.

Ele acabou assumindo a coroa em 1357, após a morte de seu pai, sendo coroado como Pedro I de Portugal. No decorrer dos 10 anos de seu reinado, ele foi reconhecido como “O Justo”, pois uma de suas preocupações foi a promoção de uma aplicação equilibrada da justiça, mas com rigor diante das práticas delituosas. O rei trabalhou para reduzir a influência da nobreza sobre o governo, intensificando a centralização do poder na figura do monarca e ampliou as relações diplomáticas do reino.

Apesar dessas realizações, seu período de governo ficou mais conhecido pelo fato de sua primeira providência como monarca foi proporcionar sua vingança pessoal pela morte de Inês de Castro, determinando a execução pública com rigores de violência dos assassinos de sua amada. O episódio ainda mais chocante associado ao seu reinado, embora não seja baseado em evidência e se tratar de uma versão que ganhou popularidade posteriormente, é a história da coroação do cadáver de Inês. Segundo a conhecida narrativa popular, Pedro I estava tão inconformado pela tragédia que se abateu sobre seu relacionamento amoroso que determinou que os restos mortais de Inês de Castro fossem exumados para que ela, finalmente, pudesse se tornar sua rainha. Uma macabra cerimônia de coração teria sido preparada, com uma caveira sentada num torno e vestida de rainha com uma bela coroa sobre o crânio. A cerimônia foi incrementada pelo ato de solene de fazer com que os presentes fossem obrigados a beijar a mão da rainha morta num gesto de respeito, submissão e demonstração de poder diante de uma corte que prejudicou fatalmente a felicidade do casal.

O fato é que Pedro declarou que Inês era sua esposa para legitimar seus ilhos com ela e determinou a construção de um túmulo para Inês e quando chegou o seu momento de ser também sepultado, em 1367, seu corpo foi depositado num túmulo diante do dela no Mosteiro de Alcobaça.


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