Kösem Sultan, a mulher grega que virou matriarca e regente do Império Otomano

(Representação visual gerada pela IA Midjourney)

Uma das figuras mais poderosas e influentes do Império Otomano foi uma mulher grega, cujo nome de nascimento era Anastasia e que foi uma cristã ortodoxa antes de adotar o islamismo e ser conhecida como Kösem Sultan, além de outros títulos. Ela nasceu na ilha de Tinos, o Mar Egeu, em 1589, mas aos 15 anos de idade acabou sendo capturada por invasores otomanos que praticavam tráfico humano e vendiam suas vítimas como escravas. Assim, a jovem acabou indo parar num mercado em Istambul (ainda chamada de Constantinopla), sua beleza chamou a atenção de um funcionário eunuco que providenciava moças para o harém do sultão Ahmed I e ela acabou virando uma odalisca.

Percebendo que sua melhor alternativa era a adaptação, ela se empenhou para aprender sobre os costumes locais, mudou seu nome para Mahpeyker (“Visagem da Lua” em persa) e virou uma islâmica fervorosa. A comprovação de sua rápida integração foi sua crescente ascensão entre as demais mulheres do harém, passando a ser a consorte favorita do sultão, que lhe deu o nome de Kösem (“sem pelos”, referência à delicadeza de sua pele). A posição que conquistou proporcionou privilégios e recompensas, além de trânsito entre as instâncias do poder e reconhecimento como personalidade relevante na sociedade.

Ahmed I morreu em 1617, sendo sucedido por seu irmão, Mustafa I, que não conseguiu se manter no posto além de 3 meses, quando foi deposto. Em seu lugar foi designado o príncipe Osman II, que resolveu banir Kösem da corte. Ela não aceitou a decadência de status, participando de uma conspiração que derrubou seu inimigo. e nomeou como sultão Murad IV, seu filho mais velho com Ahmed I, porém ele um menino de 11 anos e foi regido pela mãe, que assumiu o poder em seu nome em 1623.

A regente encontrou dificuldades para governar, lidando com insurgentes e dificuldades administrativas. No entanto, conseguiu superar os desafios com firmeza e habilidade, promovendo reformas que asseguraram estabilidade para a condução do processo sucessório e empreendendo variadas obras públicas. Sua aceitação popular era elevada por causa de suas ações em favor da população, como em iniciativas para o combate à fome e construção de mesquitas que atendiam aos anseios espirituais dos súditos. Ela regeu até que Murad IV pudesse finalmente assumir o comando por conta própria em 1632, embora contasse com Kösem como uma influente conselheira.

Como Valide Sultan (“Mãe do Sultão”) manteve uma sólida posição como articuladora e concretizou alianças pelo poder, utilizando casamentos de suas filhas com lideranças políticas e militares.

Murad IV morreu em 1640 e em seu lugar foi estabelecido mais um de seus filhos, Ibrahim I, soberano de temperamento e ações erráticas que recebeu o apelido de “o Louco”. Ela assumiu um papel importante durante o reinado de Ibrahim I, pois a incapacidade do filho possibilitou um enorme espaço para a atuação de Kösem, que buscou exercer a autoridade e o comando como se fosse a própria governante por direito, tentando amenizar a situação do desastroso reinado do filho, mas sua influência começou a decair por causa das reações de Ibrahim e pelo surgimento de novas lideranças que despontavam na corte. O instável sultão acabou deposto e executado por um movimento em 1648 e o seu substituto foi Mehmed IV, filho de Ibrahim I e que tinha 7 anos de idade.

Kösem assumiu inicialmente a regência em nome do neto, mas logo a rivalidade com a mãe do menino, Turhan Sultan, se transformou numa séria luta pelo poder. Para neutralizar Turhan, Kösem tentou destituir o herdeiro do trono por outro neto, filho de Ibrahim I com uma concubina sem aspirações pelo poder e que fazia parte de sua rede de influências. Diante da descoberta e exposição da trama, Turhan obteve apoio necessário para afastar a sogra, que acabou sendo removida da regência. Quando assumiu o controle do governo como nova regente, Turhan determinou a execução de Kösem, que foi atacada em seus aposentos e estrangulada em 2 de setembro de 1651.

A menina grega Anastasia foi raptada em sua ilha natal e percorreu um caminho improvável. Ela virou odalisca, Haseki Sultan (“Consorte Imperial”), foi mãe de dois sultões e governou duas vezes como regente do vasto Império Otomano, sendo a mais poderosa representante do chamado “Sultanato das Mulheres” (Kadinlar Saltanati) até ter um fim chocante e brutal de seus 62 anos de vida. Após o assassinato, seus admiradores passaram a se referir a ela como Valide-i Şehide, ou “Mãe Mártir”, uma condição sublime e quase sagrada entre os otomanos.


Referências:

Um comentário

Os comentários estão fechados.