Mary Stuart: Entre reinos e tragédias

(Representação visual gerada pela IA Midjourney)

A vida Mary Stuart girou em torno de três tronos (o escocês, o francês e a trama pelo inglês), mas, apesar disso, ela terminou de forma trágica. Ela nasceu em Linlithgow, Escócia, em 8 de dezembro de 1542, filha do rei James V e da nobre francesa Marie de Guise. Suas conexões familiares também estavam ligadas à Casa de Tudor, da Inglaterra, pois sua avó Margaret era filha do rei inglês Henrique VII e irmã de Henrique VIII, ligação familiar que a colocou na linha sucessória inglesa e motivou articulações pelo poder sobre o reino vizinho.

O pai de Mary morreu menos de uma semana após o nascimento da herdeira, que virou rainha ainda no berço. A regência em seu nome foi comandada em sua primeira fase pelo Duque de Arran e posteriormente por sua mãe, mas o destino da rainha criança imediatamente virou assunto de Estado. As negociações para um casamento real com finalidades estratégicas tiveram início mesmo antes que Mary começasse a falar. A primeira iniciativa foi a formalização de um acordo de casamento entre ela e o filho de Henrique VIII, o futuro Eduardo VI, mas Marie de Guise se opôs porque pretendia fortalecer os laços com sua terra natal, a França, e não concordava com entendimentos envolvendo protestantes opositores da Igreja Católica numa época de graves e sangrentas rivalidades religiosas entre os cristãos europeus. Aos cincos anos de idade, a pequena rainha foi enviada pela mãe para a França, onde recebeu a proteção do rei Henrique II e da rainha Catarina de Médici. Mary tornou-se noiva prometida do herdeiro francês, Francisco, o Delfim da França, e recebeu uma educação digna de uma futura rainha.

Ela se casou com o Delfim em 1558, aos 16 anos, e no ano seguinte, após a morte de Henrique II e coroação do marido como Francisco II, Mary passou a ser a rainha consorte da França. O casamento e o posto de rainha francesa não duraram muito, pois Francisco II morreu no ano seguinte. Mary passou ainda algum tempo na França até decidir voltar para a Escócia e assumir seu posto como rainha por direito próprio, em 1561.

As agitações religiosas movimentavam a Escócia, que havia se tornado um reino predominantemente protestante. A prima e rainha inglesa Elizabeth I era uma das apoiadoras dos protestantes escoceses que não aceitavam o comando de uma monarca católica criada na França. Mary teve a habilidade de conciliar os ânimos divergentes entre os católicos e protestantes, assegurando a liberdade religiosa.

Enquanto não lhe faltou discernimento político para equilibra-se diante da tensão entre os cristãos, suas escolhas para maridos foram problemáticas. Em 1565 ela se casou com o primo Henry Stuart, Lord Darnley. Ambos eram bisnetos de Henrique II e sobrinhos de Henrique III, embora Henry Tudor descendesse do segundo casamento de Margaret Tudor, após ficar viúva do rei escocês James V, o pai de Mary. Lord Darnley, que, assim como a esposa, fazia parte da linha sucessória inglesa, era um homem ambicioso com fortes impulsos usurpadores que ameaçavam a posição de Mary, apesar de terem um filho, James, nascido em 19 de junho de 1566, e assegurado como herdeiro do trono escocês e primeiro sucessor de Elizabeth I na Inglaterra, já que ela não tinha filhos. Henry Stuart acabou assassinado em condições misteriosas após provocações ameaçadoras contra a esposa. Mary se casou novamente três meses depois do incidente com o principal suspeito do crime, James Hepburn, o Conde de Bothwell. A essas alturas a situação escandalizou a corte, já desgastada pela experiência do impopular casamento anterior da rainha Mary.

Em julho de 1567, sob a pressão dos nobres, Mary foi obrigada a renunciar em favor de seu filho James VI, que tinha apenas 1 ano na época e que foi regido por James Stewart, Conde de Moray. Mary foi detida como prisioneira no Castelo de Loch Leven, até fugir para tentar retomar o trono através de um movimento com aliados, mas seu plano fracassou e ela foi derrotada na Batalha de Langside, em 13 de maio de 1568.

Mary Stuart fugiu para a Inglaterra acreditando que contaria com o apoio de Elizabeth I. Sua presença em solo inglês representou um problema para a rainha, que chegou a ser contestada pelos católicos ingleses desde a coroação sob a justificativa de que Mary seria a legítima herdeira do trono, sucedendo Maria I. Enquanto Mary Stuart permanecesse livre na Inglaterra, seria uma potencial rival rondando seus reino, além de motivo para agitações dos católicos ainda inconformados. Diante dos riscos, Elizabeth optou por manter a rainha deposta da Escócia detida sob custódia da coroa inglesa. Mesmo presa, Mary servia de inspiração para rebeliões e suspeita de incentivar atos de rebeldia por parte dos católicos como a Conspiração de Ridolfi (1571), a Conspiração de Throckmorton (1583) e a Conspiração de Babington (1586), que acabou servindo de motivo para um julgamento e condenação por traição.

Após 19 anos presa na Inglaterra, Mary Stuart foi executada em 8 de fevereiro de 1587, aos 44 anos. Ironicamente, seu filho, James IV da Escócia, foi coroado da Inglaterra em 1603, unificando as duas coroas e iniciando a Dinastia dos Stuart e a formação do Reino Unido. Ele buscou reabilitar a imagem da mãe, honrada com um novo sepultamento de status real na Abadia de Westminster, juntamente com os restos de Henrique VII e Elizabeth I. 


Referências:

4 comentários

Os comentários estão fechados.