Obaluayê, um orixá entre a vida e a morte

(Representação visual gerada pela IA DALL-E)

A rica tradição Iorubá com seu rico panteão de divindades, os Orixás, percorre as mais amplas dimensões da existência. Entre as entidades divinas mais importantes da crença de matriz africana está Babaluaiyê, também conhecido como Omolu ou Obaluayê, o “Rei e Senhor da Terra”. Sua antiga veneração chegou ao Brasil durante o período do tráfico transatlântico de escravos, a Diáspora Africana ocorrida entre os séculos XVI e XIX, e se firmou na Umbanda e Candomblé, além do sincretismo que o identificou com os santos São Lázaro e São Roque. 

Obaluayê é filho de Nanã e foi abandonado pela mãe na beira do mar porque nasceu com seu corpo coberto por chagas, mas sua sorte mudou quando foi acolhido por Iemanjá, a deusa dos mares e rainha dos orixás. Suas feridas sararam com a ajuda de sua nova protetora e ele adquiriu o poder da cura, atributo que virou sua mais requisitada qualidade.

A capacidade curativa de Obaluayê não era valorizada apenas pelos frágeis mortais e ele conseguiu provar tal proeza para os demais orixás. Em uma festividade divina promovida por Xangô, o deus do trovão, Obaluayê se fez presente inicialmente de maneira discreta, afastado dos demais presente. Seu comportamento tímido era atribuído à sua aparência, conforme todos julgavam, e por isso ele se vestia coberto por palhas que cobriam seu corpo e face. Intrigada por sua presença, Iansã, esposa do anfitrião e deusa dos ventos, resolveu expor o retraído orixá e mandou uma rajada de vento sem sua direção para que suas vestes protetivas se desfizessem e revelassem a aparência adoentada de Obaluayê. Para a surpresa de todos os presentes, por baixo da cobertura de palhas estava um forte e radiante beleza e Iansã acabou dançando com ele para desgosto de Xangô. O Orixá dos trovões, reconhecido por ser forte e intempestivo, tentou reagir humilhando o silencioso e reservado convidado, mas se rendeu diante da percepção de que nem o seu poder poderia estar além da sabedoria, qualidade necessária para curar.

Obaluayê exerce seu poder para curar, mas também para provocar doenças, que são formas de punir, testar ou dar lições à humanidade. Ele está associado à morte, que é parte do processo de existência, ajudando as almas em suas jornadas para o além e por isso é invocado em rituais de preparação para aqueles que estão prestes a encarar o inevitável desfecho da vida. 

Os seguidores de Candomblé e Umbanda buscam pela atuação do orixá através de cerimônias nas quais os filhos de santo vestem trajes ritualísticos de palha da costa semelhantes ao que caracteriza Obaluayê e entram em transe. Entoando cânticos e dançando, a presença e poder da divindade curandeira são solicitadas para agraciar os fiéis com saúde. Oferendas são depositadas para o agrado Obaluayê, incluindo pipocas, milho, água e velas. O uso de ervas e defumação são empregados na purificação que ajuda a promover curas e proteção, ato consumado pelo descarrego, quando os males são retirados dos adeptos da crença.

Obaluayê tem características que despertam temor e respeito, algo aceitável diante de uma entidade tão misteriosa.