Galvarino, o guerreiro que teve as mãos decepadas e continuou lutando

(Representação visual gerada pela a IA Leonardo)

Os espanhóis estavam impondo seu domínio sobre os territórios dos Mapuches, indígenas espalhados por áreas que atualmente se distribuem entre o Chile e a Argentina. A luta entre os nativos e os invasores europeus teve início em 1536 e só terminou 250 anos depois, mas no início do conflito foi forjado um grande herói indígena, o guerreiro Galvarino.

Depois da batalha de Lagunillas, em 8 de novembro de 1557, no centro-sul do Chile, os espanhóis conseguiram deter cerca de 150 combatentes mapuches e o comandante colonial determinou uma pena sobre os prisioneiros: a mutilação das mãos direitas dos comandados e das duas mãos de seus líderes. Galvarino foi um desses castigados, tendo suas mãos decepadas sem manifestar reação de dor ou temor. Depois da mutilação punitiva o guerreiro pediu aos seus captores para matá-lo, mas eles cometeram o erro de recusar.

De volta à cidade nativa de Caupolican, Galvarino não demonstrava desânimo e, ao contrário, estava tão motivado a reagir e a buscar vingança que encontrou uma forma de continuar lutando mesmo depois de mutilado. Ele tinha duas lâminas dos inimigos e achou engenhoso fixar uma em cada braço e treinar a lutar nessas condições, transformando membros de seu corpo em armas de combate de uma maneira surpreendente. Ele voltou para a guerra na posição de general de seu povo dias após ser gravemente ferido e diante de mais de 3 mil indígenas, um furioso Galvarino determinou um ataque contra um acampamento espanhol que reunia menos de 2 mil homens entre espanhóis e outros indígenas aliados dos europeu. Era a  Batalha de Millarapue, ocorrida em 30 de novembro de 1557. Para a infelicidade do destemido Galvarino, a superioridade numérica não foi capaz de lidar com a vantagem tecnológica dos oponentes comandados por García Hurtado de Mendoza, homem de quem ele queria se vingar. Os espanhóis recorreram ao seu arsenal mais poderoso composto por armas de fogo de longo alcance e canhões, superando a ofensiva dos indígenas.

Os Mapuches sofreram uma nova derrota e mais uma vez Galvarino caiu em mãos inimigas. O líder guerreiro agora foi condenado à morte, mas seu desfecho a este respeito pode ser incerto. Há versões em que o guerreiro morreu sendo jogado aos cães, há quem diga que ele foi enforcado e ainda tem a versão que insiste que ele se matou para não dar aos captores a satisfação de matá-lo. De qualquer forma, Galvarino e seu exemplo de bravura viraram inspiração para que os indígenas seguissem resistindo aos espanhóis e os atuais descendentes dos Mapuches dos tempos da resistência colonial ainda reverenciam seu herói numa tradição de ressaltar a coragem de seu povo.


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