Capitão Kidd, o caçador de piratas que mudou de lado

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

Piratas causavam temor e prejuízos que incomodavam negociantes, governos coloniais e as potências exploradoras europeias. Para lidar com a constante ameaça dos bandidos marítimos eram mobilizadas as marinhas oficiais e os serviços de capitães autônomos que comandavam suas próprias embarcações e tripulações. Além disso, os países colonizadores costumavam recorrer a viagens de comboios mercantes escoltados por navios de combate para proporcionar maior segurança e impor mais dificuldade para as abordagens piratas, mas adotar esta estratégia não era sempre possível e muitos se arriscavam em jornadas vulneráveis se deparando com os fora-da-lei que costumavam frequentar as rotas e correntes marítimas utilizadas para as travessias oceânicas.

Outros fatores como a corrupção atuavam em favor dos criminosos marinhos, pois certos governadores coloniais mantinham relações lucrativas com os piratas, recebendo subornos para negligenciar suas obrigações. Caçadores de piratas contratados para conter aqueles que as autoridades consideravam malfeitores e tais agentes poderiam se encontrar na condição de acabar pendendo para a pirataria, uma vez que costumavam ser mercenários ou corsários autorizados a agir em nome de governos constituídos e sob patrocínio de companhias comerciais. Estes perseguidores eventualmente se deparavam com a possibilidade de obter fortunas por meio da prática de pilhagem não só das embarcações piratas que conseguiam vencer como eram tentados a abordar ilegalmente navios mercantes que transportavam tesouros ou produtos valiosos. Este foi o caso de William Kidd (1654-1701), mais conhecido como Capitão Kidd.

O escocês iniciou sua vida nos mares desde cedo e foi progredindo na carreira da navegação. Radicado em Nova York, o capitão comandava navios mercantes e de combate, passando a trabalhar em embarcações de sua propriedade quando obteve sucesso e meios no decorrer de sua atuação, embora o casamento com a viúva rica Sarah Oort também o tenha ajudado a progredir nos negócios. Prestou serviços à Inglaterra em expedições bélicas, quando conheceu e criou relações com figuras importantes e influentes que ajudaram lhe posicionar em situação favorável obtendo novos contratos de serviços.

Ele recebeu uma carta de corso da Coroa Britânica, licença para apreender cargas, abordar navios dos inimigos e a prestar o serviço de perseguir e capturar piratas. Tratava-se de uma empreitada que poderia gerar bons rendimentos, pois o captor tinha direito a um percentual do valor da carga que conseguisse recuperar, valor do qual obtinha meios para realizar os pagamentos dos seus tripulantes comandados.

Os patrocinadores estavam animados com o trabalho do habilidoso Capitão Kidd até que ele descobriu que agir por conta própria era ainda mais lucrativo do que receber uma cota minoritária do produto de suas abordagens.

Kidd e seus homens mudaram de lado, então deixaram de perseguir piratas e passaram a praticar a pirataria. As ações do grupo não passaram despercebidas e as autoridades inglesas consideraram o capitão um inimigo com cabeça a prêmio, cancelando sua carta de corso e fazendo dele um renegado. O caçador de piratas virou caça e depois de alguns ataques resolveu arriscar uma maneira de se livrar dos problemas apelando para sua experiência de quem conhecia bem o lado britânico neste conflito de interesses. Então Kidd resolveu negociar sua rendição, mas o outro lado não estava interessando num desfecho tão tranquilo. Ele acabou sendo preso em Boston e transferido para a Inglaterra em 1699, onde permaneceu detido até ser finalmente julgado e condenado em 1701. Acusado de pirataria e assassinato, Kidd negou as ações, mas as provas contra ele foram mais convincentes.

O capitão foi enforcado e pendurado duas vezes, pois na primeira tentativa de execução a corda rompeu, exigindo a repetição do procedimento. Seu corpo ficou exposto pendurado em uma espécie de jaula até que seus ossos fossem limpos pela ação da decomposição e das aves carniceiras.

Sua morte precipitou uma frenética busca pelos alegados tesouros que o Capitão Kidd deixou escondidos, alimentando uma lenda que inspirou diversas narrativas sobre fortunas piratas ocultas em ilhas desertas. Além disso, William Kidd virou uma referência para outros que se inspiraram em sua trajetória e trilharam os ventos da pirataria.


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