Mary Astell, uma voz feminista do século XVII

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

A inglesa Mary Astell (1666-1731) tem uma posição importante de pioneirismo para o feminismo. Ela foi inicialmente educada pelo tio Ralph Astell, que era clérigo e poeta, aprendendo filosofia e matemática, mas depois da morte de seu instrutor ela assumiu por conta própria seu aprendizado. Ficou desamparada e sem sustento aos 18 anos, quando seus pais morreram, levando a jovem a necessitar do amparo de uma comunidade de assistência para mulheres em Londres. O Arcebispo de Canterbury, William Sancroft, conheceu Mary e ficou impressionado com sua inteligência e conhecimento sobre obras clássicas, resolvendo ajudar financeiramente e colocar a jovem em contato com pessoas influentes no círculo intelectual da cidade, conseguindo apoiadores entre eles.

Ela entrou para um grupo de mulheres intelectuais, aprimorando suas ideias através das reuniões e debates nos quais temas como igualdade e educação eram frequentes. Ela passou a defender que o principal fator da desigualdade de gêneros era o acesso à instrução, pois as mulheres eram até impedidas de obter uma educação elevada.

Como escritora, ela começou a publicar primeiramente suas criações poéticas e em seguida surgiram suas obras filosóficas de caráter feminista. Em “A Serious Proposal to the Ladies for the Advancement of their True and Greatest Interest” (“Uma Proposta Séria às Senhoras para o Avanço de seu Verdadeiro e Maior Interesse”), publicado em duas partes em 1694 e 1697, ela elevou sua defesa à educação como meio de proporcionar igualdade, reforçando o posicionamento de que intelectualmente não existem diferenças entre homens e mulheres. Ela propôs a criação de instituições educacionais voltadas para as mulheres e ainda criticou a dedicação feminina a habilidades sociais voltadas para o agrado dos homens, enfatizando a limitação imposta às mulheres de ampliar suas capacidades, enquanto seus papéis são voltados para a maternidade e serviços domésticos. Em “Some Reflections upon Marriage” (“Algumas reflexões sobre o Casamento”), de 1700, ela propõe uma reconsideração a respeito do matrimônio defende que as mulheres devem buscar a felicidade e a realização pessoal independente do casamento. Ela também escreveu a respeito de aspectos filosóficos envolvendo temas teológicos, políticos e reformas educacionais, além de discussões sobre obras de filósofos importantes. Ela conseguiu obter sustento através de seu trabalho escrito, que ainda conquistou o apoio de mulheres de condições privilegiadas que resolveram atuar como patrocinadoras de seu trabalho intelectual.

Além de sua produção como filósofa, Mary Astell fundou em 1709 e assumiu o comando de uma escola de caridade voltada para o atendimento de meninas. A escola era mantida por mulheres influentes e abastadas e seu conselho diretor tinha composição exclusivamente feminina. A essas alturas ela passou a se dedicar com exclusividade à escola, deixando de atuar como figura política.

Ela permaneceu solteira por opção e sua vida privada era bastante preservada. Mary Astell morreu em 1731, aos 61 anos, em decorrência de um câncer de mama. Sua obra teve impacto maior na posteridade, pois ela foi reconhecida como uma pioneira pelo movimento feminista, antecipando muitos debates que só encontraram campo para o desenvolvimento muito tempo depois dela.


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