Tibério e o peso do poder no Império Romano

(Representação visual gerada pelas IAs DALL-E e Leonardo)

Depois do tumultuado fim da República Romana através de guerras civis e instabilidade política, emergiu o regime imperial, uma transformação monumental na estrutura política de Roma. Augusto, o primeiro imperador, era sobrinho-neto e herdeiro adotivo de Júlio César, e manteve o controle absoluto disfarçado sob instituições republicanas, realizando um longo e próspero governo.

A sucessão neste novo regime não era clara, uma vez que não havia um sistema formalizado de herança imperial, mas o imperador tinha a expectativa de que sua sucessão estaria assegurada através de seus netos Gaius e Lucius César, mas os jovens morreram inesperadamente, frustrando o desejo de Augusto. Em seu segundo casamento com a nobre Lívia, que também já havia sido anteriormente casada e tinha Tiberius Claudius Nero como filho de sua primeira união, restou ao imperador recorrer ao enteado Tiberius Claudius Nero como herdeiro. Mas Tibério não era um homem da vida política romana, era um general habilidoso que seria o elo entre importante para consolidar a união entre as famílias mais poderosas de Roma, instituindo a Dinastia Julio-Claudiana. O general sentia-se desconfortável com a política e preferia a vida militar, relutando em abraçar plenamente seu papel como sucessor, mas as tramas em torno do poder faziam dele a opção mais viável para o trono.

Casado com Vipsânia Agripina, filha de Marco Vipsânio Agripa, um aliado próximo de Augusto e uma das figuras mais influentes em Roma, Tibério foi pressionado a encerrar seu casamento marcado por afetividade para realizar o arranjo político que incluía casar-se com Júlia, a filha do imperador. A separação de Vipsânia foi, segundo relatos históricos, uma fonte de grande tristeza para Tibério e o casamento com Júlia foi problemático, cheio de tensões pessoais e políticas.

Com a morte de Augusto, como previsto pelos acordos e articulações políticas, o segundo imperador de Roma foi consagrado em 14 d.C. como Tiberius Caesar Augustus.

Tibério tinha personalidade muito diferente de seu antecessor, o que impactou sua atuação. Ele era conhecido por sua modéstia e aversão às ostentações típicas do poder imperial, não se deleitava com as cerimônias e homenagens extravagantes que eram comuns entre os líderes romanos. Preferia uma administração sóbria e eficiente, focada em fortalecer a economia e a estabilidade do império, em vez de buscar glória pessoal através de conquistas militares ou construções monumentais e dedicou sua atuação inicialmente aos assuntos meramente administrativos. Nesta fase sua reputação entre os militares era muito elevada, pois o seu histórico como comandante era um fator que o aproximava do exército e Tibério retribuía o respeito com favorecimentos e investimentos na provisão dos recursos voltados para a manutenção da corporação.

A situação do imperador foi progressivamente alterada no decorrer tempo, pois Tibério passou a manifestar um comportamento cada vez mais conturbado. O homem dedicado aos detalhes da administração e funcionamento das instituições passou a ser uma pessoa marcada por uma extrema desconfiança e paranoia, refletindo sobre suas ações diretas como governante, implicando numa crescente onda de perseguições dirigidas a eventuais conspiradores mesmo diante da completa falta de indícios. Como sua situação de desconfiança tornou-se extrema, Tibério resolveu largar a vida em Roma para viver isolado na ilha de Capri, negligenciando suas responsabilidades oficiais como imperador. Durante esta fase o exercício do governo e do poder foi delegado aos poucos aliados nos quais ele confiava, sobretudo sob o comando de Lucius Aelius Sejanus, comandante da Guarda Pretoriana que se tornou altamente influente e até capaz de manipular o próprio imperador em sua fase mais perturbada. Sejanus acumulou tanto poder que exercia em nome de Tibério o comando do império, situação que incomodava o exército, o Senado e muitos agentes importantes da elite romana.

Depois de evidenciado que Sejanos tramava usurpar seu poder, Tibério determinou sua execução e a consequente perseguição aos seus aliados, mas a postura paranoica do imperador até foi agravada com o imperados governando a partir de seu autoexílio e distante dos assuntos cotidianos de Roma.

Repetindo as dificuldades sucessórias, Tibério esperava que o general Druso Júlio César, filho legítimo de seu casamento com Vipsânia, herdasse o poder romano, mas sua expectativa foi dramaticamente frustrada pela morte em circunstâncias misteriosas de seu herdeiro, que pode ter sido envenenado por ordens de Sejanus. O imperador adotou seu neto biológico Tiberius Gemellus (filho de seu filho morto) e seu neto adotivo Gaius Julius Caesar Augustus Germanicus, o famigerado Calígula, filho do general Germanicus, sobrinho e filho adotivo de Tibério que também figurou como opção sucessória até morrer envenenado em circunstâncias estranhas. 

Tibério morreu em 37 d.C., aos 77 anos de idade, deixando o poder para Calígula, que anulou o testamento de seu antecessor e excluiu Gemellus da sucessão, assumindo comando isoladamente.

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