Nanã, a Mãe do Universo na tradição da África Ocidental

(Representação visual gerada pala IA DALL-E)

Nana-Buluku ou simplesmente Nanã é uma das mais importantes deidades e figura central na cosmogonia das culturas Fon e Ewe, dos atuais Benin, Togo e Gana, sendo sua relevância mítica assimilada por outros povos da região e proximidades, como os Iorubás e Ibos, chegando até muito além dos territórios da África Ocidental.

Conta a tradição que no meio do vazio cósmico Nanã criou o universo enquanto realizava sua dança divina, sendo mãe do sol (Lisa) e da lua (Mawu), que são ainda representações do masculino e do feminino, da luz e da escuridão, além de pais de Xangô. Depois de originar o universo e a vida, Nanã entregou sua criação aos cuidados de seus descendentes divinos, mas seu poder de gerar a vida acabou sendo invejado por outras divindades e Olokum criou o caos, as tempestades e trouxe a morte para perturbar o mundo e atrapalhar a criação de Nanã, o que levou a criadora a interferir e travar uma luta entre os céus e a terra, conflito vencido por Nanã. O apaziguamento entre Olokun e Nanã estabeleceu a ordem, mas a matriarca criadora figurou como guardiã do equilíbrio cósmico.

Nanã é geralmente representada como uma anciã, simbolizando sua sabedoria e ancestralidade sobre as demais divindades. Ela também é vislumbrada como uma divindade andrógina, geralmente apresentada de maneira simples, sem ornamentos extravagantes, refletindo sua conexão com os aspectos mais fundamentais da existência.

Sua presença é marcante no Vodum, praticado no Benin e em outras regiões da África Ocidental, bem como no Candomblé e na Umbanda no Brasil, onde ela é venerada como uma divindade mãe poderosa e criadora do universo. A diáspora africana, resultante do comércio transatlântico de escravos, desempenhou um papel importante na disseminação e adaptação dos mitos e práticas associados a Nana-Buluku. Nessas novas terras, as crenças originais se misturaram com elementos de outras tradições espirituais, incluindo o cristianismo e as religiões indígenas, formando um sincretismo religioso rico em referências. Assim, Nanã se tornou uma ponte espiritual, conectando as raízes africanas com as novas identidades e experiências culturais da diáspora, mantendo seu papel como um símbolo de sabedoria, criação e maternidade espiritual.