William Adams, o navegador inglês que virou samurai no Japão

(Representação visual gerada pela IA Midjourney)

Nascido em 1564, William Adams foi um navegador, aventureiro e mercador, reconhecido como o primeiro britânico a pisar no Japão. Na adolescência, Adams começou a ter contato com as atividades marítimas como aprendiz em um estaleiro em Londres e logo se interessou pela navegação, dedicando-se a aprender astronomia e construção naval. Ingressou na Marinha Real e serviu sob o comando do legendário Francis Drake na luta contra a Invencível Armada da Espanha, que foi vencida pelos britânicos em 1588.

Depois dessa experiência militar, passou a trabalhar como navegador em expedições mercantis, comandando embarcações de procedências berberes até conseguir o comando de um navio numa nova expedição holandesa que viajou pela costa da África, chegou até a América do Sul e rumou para o distante Japão. Apenas o navio de Adams conseguiu chegar lá, com uma tripulação desgastada e faminta, mas a recepção não foi das melhores. Portugueses já estavam no Japão promovendo negócios, e a chegada de um outro navio europeu não era algo que agradava aos lusitanos, que acusaram William Adams e seus homens de pirataria e fizeram deles seus prisioneiros.

A sorte de Adams e de seus companheiros de aventura foi que o episódio de sua chegada e prisão chamou a atenção do daimyō e futuro xogum Ieyasu Tokugawa, que decidiu conhecer os forasteiros. Apesar dos benefícios comerciais proporcionados pela interação com os portugueses, o daimyō estava preocupado com a crescente intervenção dos estrangeiros, que já andavam proporcionando um esforço de catequização de pescadores locais e até chegaram a tomar japoneses como escravos. Então, a possibilidade de conhecer outros europeus poderia ser uma alternativa para substituir o papel de Portugal como parceira de comércio. Contrariando os portugueses que pretendiam executar os prisioneiros, Ieyasu Tokugawa decidiu que este não seria o destino deles e impôs sua autoridade sobre os lusitanos, providenciou interrogatórios próprios para sondar os prisioneiros e os levou a um de seus castelos.

O líder japonês se agradou do capitão inglês, ficando impressionado com suas histórias e com o fato de o agora “convidado” ser conhecedor de construção de navios. Foram providenciadas instalações adequadas para Adams, que foi empossado num honroso cargo na administração pública como um especialista que trabalharia em favor do desenvolvimento naval do Japão. A insistência do inglês em voltar para casa foi desprezada por Tokugawa, assim Adams se estabeleceu de vez no território japonês e passou a manter sua esposa e filhas com o envio de recursos de seus pagamentos, embora ele tenha aproveitado para casar novamente no Japão com uma mulher local, vivendo na propriedade que recebeu na Península de Miura e constituindo uma nova família.

O inglês passou a ser chamado no Japão de Miura Anjin e trabalhava supervisionando a construção de navios, assessorando Tokugawa em diversos assuntos e realizando intermediação e contatos comerciais com mercadores britânicos e holandeses. Fez viagens oficiais representando o governo Tokugawa em outras áreas da Ásia e ajudou a estabelecer entrepostos comerciais ingleses. Por sua distinção como agente próximo do xogum, recebeu ainda as formalidades que faziam dele, oficialmente, um samurai. Este status considera que um samurai não era necessariamente um guerreiro virtuoso nas artes do combate e sim um indivíduo notável que, por força de juramentos de honra e lealdade, firmava vínculos de apoio e proteção com os soberanos, um paralelo com os cavaleiros europeus. Samurais também ocupavam funções na estrutura do Estado, e era exatamente esta a posição de Adams.

Mesmo sendo desafeto do representante inglês, que também o repeliu por ter aderido aos hábitos japoneses, Adams não só tentou favorecer seus compatriotas britânicos como foi decisivo articulando a redução da presença de Portugal no Japão. Foi por meio de sua influência que o xogum proibiu o catolicismo no território japonês e iniciou a perseguição aos pregadores portugueses.

Com a morte de Ieyasu Tokugawa, em 1616, William Adams perdeu seu amigo e protetor. O novo xogum, Tokugawa Hidetada, não gostava da presença dos europeus no Japão e defendia o isolamento do país, posturas que afetavam o comércio e também fechavam portas para Adams, que acabou se retirando das atividades para viver em sua propriedade.

Ele morreu em 1620, aos 55 anos.

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