Nur Jahān, a dominante imperatriz Mogol

(Representação visual gerado pela IA Midjourney)

A Dinastia Mogol ou Mugal, que governou a maior parte do subcontinente indiano entre os séculos XVI e XIX e constituiu um império, foi fundada por Babur (Zāhir ud-Dīn Mohammad), um líder militar e descendente gente poderosa como o conquistador Tamerlão e o famoso líder mongol Genghis Khan.

Quando o império era regido por Jahangir, de 1605 a 1627. Ainda como príncipe e sucessor de Akbar, Jahāngīr havia perdido a paciência com a espera pelo trono e tentou derrubar seu pai em 1599, fato que causou tumultos e divisões, envolvendo partidários da tentativa de golpe do filho e dos defensores da condução sucessória por vias naturais. Neste ponto as tramas políticas começaram a ser cruzadas com os fios do destino. Em meio ao imbróglio pelo trono, Sher Afghan, um alto funcionário do império, resolveu se envolver na briga político-familiar de pai e filho, decidindo apoiar a posição de Akbar, que ao final acabou prevalecendo. Sher Afghan era casado com Mehr al-Nesā, mulher de origem afegã filha de refugiados que migraram para a Índia. O casal teve um filho e uma filha e vivia confortavelmente, mas tudo mudou quando Jahāngīr finalmente realizou o desejo de virar rei com a aguardada morte de Akbar. Jahāngīr colocou em prática uma ação revanchista contra os apoiadores de seu pai por ocasião de sua tentativa de golpe sucessório e Sher Afghan acabou sendo morto enquanto tentava escapar da captura. Como era um costumeiro ato de clemência oferecer refúgio às viúvas de inimigos, Mehr al-Nesā acabou indo parar na corte de Jahāngīr como dama de companhia e depois o rei decidiu tomá-la como sua vigésima esposa em 1611, dias antes do 34º aniversário da noiva.

A contrário das várias esposas do imperador, Mehr al-Nesā não ficou confinada ao harém e destacou-se como sua principal e preferida companhia, recebendo o título e nova identificação como Nur Jahān, que significa “Luz do Mundo”. Mulher inteligente, habilidosa e articulada, teve crescente influência sobre os assuntos de governo também. Ela mantinha o imperador sob seu controle e ocupava muitas das atribuições de governante, sobretudo pela conduta displicente de Jahāngīr para lidar com as reponsabilidades estatais. O monarca foi também dominado pelos vícios em bebidas e ópio, o que frequentemente o deixava literalmente alienado da rotina do governo, mas enquanto isso Nur Jahān assumia na prática a condição de regente ao pondo de estar claro para todo mundo de quem era mesmo o poder – e todos sabiam que era dela!

Nur Jahān proclamava leis, conduzia julgamentos, realizava acordos e recebia representações internacionais, sendo a única imperatriz consorte a ter tamanho poder em toda Dinastia Mogol. Ela conseguiu até tornar-se uma exímia atiradora, portava publicamente armas de fogo e disparava para praticar e exibir sua perícia. Conta-se que durante uma visita aos Himalaias, enquanto estava acampada com a imensa comitiva real, a rainha soube que um tigre estava atormentando a população local e decidiu ir pessoalmente caçar a fera, feito que conseguiu e deixou uma impressão muito boa entre os habitantes da região.

Em 1626, Jahāngīr viu-se aprisionado por um grupo rebelde liderado por Mahabat Khan, ansioso por tomar controle de uma região crucial no Império Mogol. Impulsionada pela determinação, Nur Jahān correu para resgatar o imperador, liderando uma unidade montada em um elefante de guerra, avançando decididamente rumo ao acampamento de Mahabat Khan. Apesar da impetuosidade, ela também foi capturada pelo próprio Khan, mas mesmo em cativeiro, Nur Jahān concebeu um audacioso plano de fuga e, surpreendentemente, conseguiu mobilizar um exército para confrontar as forças de Khan. No entanto, apesar de seus esforços incansáveis, ela não pôde impedir a trágica morte de seu marido, que ocorreu em 28 de outubro de 1627, pouco após uma nova ação de resgate ter sido bem-sucedida.

Com a morte de Jahāngīr, a imperatriz tentou manobrar para que seu genro Shahryar, que também era o filho mais novo de Jahangir, assumisse o trono, que acabou passando por direito legítimo para o filho mais velho de Jahāngīr, o príncipe Khurram, que foi depois aclamado como o imperador Shah Jahān, notabilizado pela construção do imponente Taj Mahal, obra inspirada na tumba de Iʿtimād al-Dawlah, em Agra, que Nur Jahan mandou construir para seu pai.

Shah Jahān tentou apagar registros de Nur Jahān, destruindo moedas com sua imagem e desfazendo muitos de seus atos como regente. Ela passou seu tempo fora do trono instalada em uma mansão e sustentada pelo império até sua morte aos 68 anos de idade, no final de 1645. Após sua morte em 1645, ela foi enterrada em Lahore , Paquistão, em uma tumba perto da muito maior de Jahāngīr, mas seu descanso final é muito mais visitado do que o de seu marido imperador.    

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