As Kandakes: Mulheres líderes do Reino de Kush

Representação visual desenvolvida com a IA Midjourney

O Reino de Kush, também conhecido como Núbia, foi uma antiga civilização que se desenvolveu no nordeste da África, na região que abrange o Sudão atual, ao longo do rio Nilo. O reino existiu aproximadamente entre 800 a.C. e 350 d.C. através de diferentes fases e dinastias ao longo desse período. No início, os kushitas eram governados por faraós egípcios, mas eles conseguiram libertar-se do domínio do famoso vizinho africano e estabelecer seu próprio reino independente. O principal centro urbano do reino era Meroé, cidade às margens do Nilo com grande atividade econômica e social, além de suas mais de 200 pirâmides. Kush recebeu várias influências em sua constituição, sendo bastante presentes por lá elementos herdados dos egípcios, que se misturavam com elementos locais e deram forma a uma cultura rica e fascinante.

As mulheres eram as definidoras da sucessão real e das dinastias porque os kushitas adotavam a herança matrilinear e uma característica muito importante em sua organização era a presença das Kandakes ou Candaces (“Rainha Mãe”), mulheres que desempenhavam um papel de liderança significativo na sociedade, tanto politicamente quanto militarmente. As Kandakes também tinham relevância religiosa, sendo consideradas figuras sagradas com conexões divinas. Elas eram frequentemente associadas à deusa egípcia Ísis e desempenhavam rituais religiosos e cerimônias para garantir a proteção e a prosperidade do reino.

As mulheres da realeza são presenças constantes nos registros em relevo nos templos e em outras edificações, pois estão lá identificadas as mães e as rainhas consortes nas cenas de coroação dos reis e nas cenas que ressaltam feitos grandiosos como conquistas territoriais ou vitórias militares, mas o grande destaque é a quantidade de mulheres que eram as regentes, sobretudo durante o duradouro período meroítico (542 d.C. – século 4 d.C), época em que a cidade de Meroé era a capital de Kush.

Fachada do Templo do Leão com representações do rei Natakamani e da rainha Amanitore em condições de igualdade

Algumas Kandakes memoráveis

Shanakdakhete foi Kandake entre 170 a 150 a. C. e governou com poder absoluto. Nas representações encontradas da rainha nos sítios arqueológicos ela não se faz acompanhar por um rei ou homem identificado como tal, o que sugere que governava sozinha. Ela não adotou títulos egípcios como seus antecessores, o que sugere a inovadora iniciativa de conferir uma identidade própria para quem governava o reino. A rainha Amanirenas (reinou de 40 a.C até 10 a.C.) é reconhecida por sua atuação contra as tentativas de domínio dos romanos, conseguindo conter o avanço dos estrangeiros e de seus aliados egípcios e celebrando um tradado de paz que preservou seu reino. A Kandake Amanishakheto, que reinou de 10 a.C. até o primeiro ano da Era Cristã, também teve um papel importante na preservação das fronteiras do reino diante dos romanos, embora tenha falhado em tentativas de se apossar de áreas egípcias. Amanitore compartilhou o governo na sequência marido Natakamani por volta de meados do século I e registros apresentam a rainha como uma guerreira e sacerdotisa. Com Amanikhatashan (reinado de 62 até 85) Kush realizou uma aliança de cooperação com os romanos na Primeira Guerra Judaico-Romana. Amanipilade reinou no fim do reino kushita, situação em que acabou sendo incorporado ao Reixo Axum, proveniente da Etiópia.   

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