Uma certa dose de deboche costuma causar furor, sobretudo em tempos facebookianos. Agora o caso do momento é a questão de uma prova de Filosofia que chama a cantora (sic) Valesca Popuzuda de “pensadora contemporânea”. Parece que poucos pararam para abordar o fato de que a tal questão pode ser exatamente uma provocação ao que se “pensa” na contemporaneidade, ou seja, a questão cumpre o papel de chamar a atenção para o vazio que domina o cenário de produção e reprodução institucional e coletiva de besteirol indiscriminado e desenfreado. Fazendo isso a questão que o professor colocou em sua prova acaba cumprindo um papel que a Filosofia deve desempenhar, pois provocou uma inquietação que levou a uma reflexão. Claro que a estratégia do professor foi arriscadíssima justamente por conta do próprio contexto que sua brincadeira presumivelmente debocha e a provocação foi disseminada pelas redes sociais (e pior: também por veículos de imprensa) de maneira descontextualizada ou descaracterizada, dando a entender que o professor de fato qualifica a tal popozuda como uma filósofa – pensadora ela é, pois é um ser racional, ainda que exageradamente rebolativa. Então o problema principal tem sido a difusão de juízos sem a devida ponderação em relação ao professor ou ainda a falta de entendimento sobre algo bastante elementar, um recurso utilizado por muitos pensadores (contemporâneos ou não, popozudos ou não): Ironia.
Depois de ver a tal prova, tão comentada, me parece clara a intenção do professor de “provocar” os alunos. Ele poderia colocar entre aspas, mas talvez não causaria o mesmo efeito, caso os alunos percebessem que se tratava de ironia.
Resta saber se as pessoas indignadas das redes sociais sabem o que é ironia, pois a capacidade intelectual de muitos usuários de tais redes não fica nada devendo às letras cantadas pela “Popozuda”